Cheguei há pouco tempo, mas desde o início elas me surpreenderam.
No começo não questionei, porque eu era nova. Mas depois, mais a vontade, resolvi perguntar porque elas sempre ficavam naquele canto, na mesma posição, intocáveis.
Alguém disse que a dona resolveu deixar ali.
Toda vez que eu entrava naquela salinha, sentava no troninho, observava as botinhas de cano curto, pretas no canto da parede, debaixo da pia. Olhava pra ver se estavam diferentes, mas não, sempre na mesma posição. Reparava no fecho, no ziper, ou se não estavam sujas, ou usadas, mas nada, absolutamente nada.
Pensava porque a dona das botas não as usava. Porque as abandonou naquele canto. Valor sentimental?! Porque não doou, não deu, não vendeu não jogou fora? Porque estavam há meses naquele canto?!
Um dia, entrei naquela salinha fria e reparei que uma das botas estava caída. Fiquei feliz só por pensar que elas haviam sido usadas. Mas a bota ficou caída por dias, na mesma posição. Vai ver foi o vento. Vai ver alguém mexeu e ficou com medo de colocar no lugar. Vai ver a dona ficou com pena e mexeu um pouco nelas, dando um pouco de carinho.
Pois é, as botinhas passaram a não ser apenas um objeto, mas a representação de algo que está ali num canto, intocável, inútil, imprestável. Poderia estar aquecendo os pés de alguém, poderia estar sendo tirada depois de um dia cansativo, poderia estar sendo gasta numa pista de dança, poderia estar atraindo olhares com os passos de um bom par de pernas, mas não, está ali, quieta, no canto, na mesma posição de sempre.
Toda vez que entro, reparo nas botinhas, e acho graça, porque estão sempre ali. As pessoas que estão há mais tempo por aqui, se acostumaram, nem falam mais da botinha. Mas quando eu pergunto, elas também acham graça.
Ninguém tem coragem de tirar a botinha dali. Acho que nem a dona.
No começo não questionei, porque eu era nova. Mas depois, mais a vontade, resolvi perguntar porque elas sempre ficavam naquele canto, na mesma posição, intocáveis.
Alguém disse que a dona resolveu deixar ali.
Toda vez que eu entrava naquela salinha, sentava no troninho, observava as botinhas de cano curto, pretas no canto da parede, debaixo da pia. Olhava pra ver se estavam diferentes, mas não, sempre na mesma posição. Reparava no fecho, no ziper, ou se não estavam sujas, ou usadas, mas nada, absolutamente nada.
Pensava porque a dona das botas não as usava. Porque as abandonou naquele canto. Valor sentimental?! Porque não doou, não deu, não vendeu não jogou fora? Porque estavam há meses naquele canto?!
Um dia, entrei naquela salinha fria e reparei que uma das botas estava caída. Fiquei feliz só por pensar que elas haviam sido usadas. Mas a bota ficou caída por dias, na mesma posição. Vai ver foi o vento. Vai ver alguém mexeu e ficou com medo de colocar no lugar. Vai ver a dona ficou com pena e mexeu um pouco nelas, dando um pouco de carinho.
Pois é, as botinhas passaram a não ser apenas um objeto, mas a representação de algo que está ali num canto, intocável, inútil, imprestável. Poderia estar aquecendo os pés de alguém, poderia estar sendo tirada depois de um dia cansativo, poderia estar sendo gasta numa pista de dança, poderia estar atraindo olhares com os passos de um bom par de pernas, mas não, está ali, quieta, no canto, na mesma posição de sempre.
Toda vez que entro, reparo nas botinhas, e acho graça, porque estão sempre ali. As pessoas que estão há mais tempo por aqui, se acostumaram, nem falam mais da botinha. Mas quando eu pergunto, elas também acham graça.
Ninguém tem coragem de tirar a botinha dali. Acho que nem a dona.
Um comentário:
Meio David Lynch.
Daria um belo curta. A pessoa entrado em ocasiões diferentes na salinha - isso seria marcado pelas outras pessoas que estaria ali; sempre diferentes, e pelas diferentes roupas que a pessoa usaria.
As coisas que vc imaginou sobre as botinhas seriam apresentadas tipo aqueles flash.
Sei lá, viajei na estória.
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