domingo, 1 de junho de 2014

"Praia do futuro" de Karim Ainouz (2014)

 
Um filme de (um) homem sobre uma história de amor entre homens. Um filme corajoso e necessário ao contar uma entre tantas histórias que poucos se atrevem a contar. Que mostra o que poucos se atrevem a mostrar. Os corpos nus dos personagens se contrastam com a ausência da frequente nudez feminina. É o corpo do homem que invade a tela e se deixa invadir por outro homem. Homem escancarado porque é preciso escancarar o que tanto é reprimido. Sexo não é inimigo.
 
Minha surpresa começa pelo título. Mal sabia eu que existia uma praia com esse nome. Praia do futuro, onde tudo (e  o agora) acontece no filme. É nela que Donato (Wagner Moura) trabalha como salva-vidas e se esconde da sua homossexualidade. É lá que Donato conhece o motoqueiro alemão Konrad (Clemens Schick), fragilizado pela perda do amigo que Donato não foi capaz de salvar. É nela que Ayrton (Jesuita Barbosa) se inspira, ao ver seu irmão Donato como um herói, um Aquaman. Um homem do mar, sem saber que é no mar que ele se esconde de si mesmo. E é dela que o casal se despede, para construir a própria história em outro lugar e em um novo lar.
 
É uma história simples e delicada, com os dilemas comuns a todos nós. Sobre alguém que assume o controle da própria vida, quando se permite conhecer o novo, enfrentando o medo de si mesmo para viver sua própria verdade e história, ainda que permaneça em estado de fuga, de si, do outro e do mundo. E quem foge, em algum momento, precisará se reencontrar.
 
Ayrton representa esse papel do reencontro. Do incômodo. Daquilo com o que não queremos lidar. Konrad representa o frescor do novo, do desconhecido, do delicioso convite à aventura da vida. E Donato nos representa, em cada dilema humano, ao ter que decidir ficar em sua zona de conforto ou buscar a própria verdade, representada pela manifestação da sua sexualidade, inerente à identidade humana.
 
Negar-se é negar a própria existência e viver em constante estado de prisão, recusando a leveza da vida. É preciso ser o que se é, em estado pleno, em total entrega. Aceitar-se parece ser o caminho mais rápido para a felicidade!
 
Praia do futuro parece indicar um cinema e mundo do futuro, em que todas as histórias poderão ser contadas e vivenciadas com total entrega. É o que eu espero! =)

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