quarta-feira, 28 de março de 2012

"A pele que habito" de Pedro Almodóvar 2011


Vendo esse filme, fiquei imaginando se um dia o Almodóvar acordou, sentou casualmente na mesa do café da manhã e ao abrir o jornal matutino, notou a página de desaparecidos e teve uma ideia!

O que teria acontecido com um jovem, chamado Vicente, desaparecido há anos?!

Talvez um cirurgião plástico obsessivo (Antonio Banderas) tenha sequestrado esse jovem para vingar a filha falecida, doente mental que foi abusada sexualmente pelo 'atrapalhado' Vicente tempos atrás. E talvez esse médico tenha usado Vicente como cobaia para testar seus experimentos científicos, como a transgênese, ainda polêmica e proibida, que poderia ter salvo sua esposa queimada e suicida anos atrás. E talvez a melhor maneira de vingar sua filha, seria transformando sexualmente o estuprador, através de uma vaginoplastia. Afinal, o prazer de alguém que estupra não está no sexo, mas no poder e controle sobre a vítima. Porém, seria Vicente alguém tão inescrupuloso?! Ou seria o médico, um verdadeiro psicótico adormecido?

Diferente do que imaginei no início do texto (ou não), o filme "A pele que habito" é baseado no livro "Mygale", de Thierry Jonquet. Almodóvar queria criar uma situação-limite entre dois personagens numa trama de horror, 'sem gritos ou sustos'. Um terror psicológico, que deixaria qualquer espectador 'meio' chocado com as descobertas gradativas da narrativa. Sem heróis ou vilões, mas personagens 'imperfeitamente' humanos!

Com muito sarcasmo e realismo, Almodóvar toca em assuntos delicados como a transexualidade e a transgênese, sem nos poupar da 'possível' crueldade humana. Através dos personagens Vicente e Vera, podemos nos questionar: O que define a sexualidade de uma pessoa?! A personalidade ou a 'pele' (corpo) que ela habita?

Um comentário:

Leandro Coêlho disse...

Quando fui assistir ao filme não sabia exatamente o que esperar. Durante o filme fiquei pensando "uai, Almodovar sempre coloca alguma coisa relacionada à sexualidade nos filmes, mas até agora nada..." Lá pelas tantas fui chocado (como tantos outros, imagino) com um arrebatador sequestro que culminaria numa das formas de violência mais brutais para os humanos: a psicológica (passando pela sexual). Fiquei intrigado pelo nome do filme e achei muito interessante a ligação entre a mudança de sexo (ou adequação do sexo na verdade, mas que não é o caso do filme) e o respeito que devemos ter pelo outro (a pele que habito, pois antes ele era homem e agora estava numa pele de mulher sendo estuprado como "ele havia feito antes", o que é aterrador, ainda mais pra um homem que nunca ser mulher).
Um bom filme, realmente! Recomendo.