Sérgio Rizzo, especial para o Yahoo! Brasil
Desde que o sucesso internacional de "Amnésia" (2000) fez sua carreira decolar, o diretor e roteirista inglês Christopher Nolan repaginou a franquia Batman, em "Batman Begins" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008), e conjugou efeitos de última geração a uma história espiralada em "A Origem" (2010), um dos grandes sucessos da última temporada. De quebra, ainda dirigiu um roteiro alheio (e um excelente trio de atores -- Al Pacino, Robin Williams, Hilary Swank) no lúgubre "Insônia" (2002).
Por esse currículo expressivo, Nolan é um dos principais diretores em atividade na indústria dos Estados Unidos, certo? Para a Academia de Hollywood, a resposta ainda é "mais ou menos". Somados, os cinco filmes acima receberam 19 indicações para o Oscar -- duas para "Amnésia" (uma para Nolan, pelo roteiro original), uma para "Batman Begins", oito para "O Cavaleiro das Trevas" (que levou dois Oscar) e mais oito para "A Origem" (duas para Nolan, pelo roteiro original e como co-produtor).
A nova ausência de Nolan entre os diretores que disputam o Oscar chama a atenção por demonstrar como a Academia, embora rejuvenescida na última década, continua a tratar espetáculos de diversão com algum preconceito. Curiosamente, um dos três indicados pela primeira vez nessa categoria é Darren Aronofsky ("Cisne Negro"), que começou a trabalhar na repaginação de Batman e foi dispensado. Os outros dois, Tom Hooper ("O Discurso do Rei") e David O. Russell ("O Vencedor"), têm carreira bem mais discreta do que a de Nolan.
Não há problema entre os próprios colegas: Nolan já disputou o prêmio do DGA (Directors Guild of America), o sindicato dos diretores, por "Amnésia" e "O Cavaleiro das Trevas", e está novamente na briga por "A Origem" (ocupando vaga que, no Oscar, ficou com os irmãos Coen por "Bravura Indômita"). Se ele vencer, será apenas a sétima vez desde a criação do prêmio do sindicato, em 1948, que o eleito pelo DGA não coincide com o vencedor do Oscar -- a mais recente foi em 2002, quando Rob Marshall ("Chicago") teve a preferência do sindicato e Roman Polanski ("O Pianista"), a da Academia.
Nolan, 40 anos, sabe que o Oscar de direção tem seus caprichos. Steven Spielberg estava com 47 anos quando finalmente levou a estatueta para casa, na quinta indicação, por "A Lista de Schindler" (1993), e 52 anos quando repetiu a dose, por "O Resgate do Soldado Ryan" (1998). Martin Scorsese estava com 64 anos quando se emocionou ao receber afinal o prêmio, na sexta indicação, por "Os Infiltrados" (2006). Alfred Hitchcock, Howard Hawks e Stanley Kubrick, três dos maiores cineastas na história de Hollywood, jamais receberam o Oscar da categoria em que foram mestres incontestáveis.
Por falar em Scorsese, "Ilha do Medo" -- que teve boa recepção de público, em 19º no ranking de bilheteria da temporada -- ficou sem nenhuma indicação. Dos 20 maiores sucessos do ano nos Estados Unidos, apenas três disputam o Oscar em categorias importantes: "Toy Story 3", o número 1, deve faturar o Oscar de longa de animação; "A Origem", o quinto no ranking, e "Bravura Indômita", o 17º, disputam o Oscar de melhor filme.
"Um Lugar Qualquer", de Sofia Coppola, que recebeu o Leão de Ouro em Veneza e deve estrear no Brasil na próxima sexta-feira (28), também passou em branco nas indicações, assim como o francês "Carlos", de Olivier Assayas, que alguns críticos norte-americanos gostariam de ver entre os 10 candidatos a melhor filme, além de apostarem na indicação do venezuelano Édgar Ramírez para o Oscar de melhor ator. Mas, se havia uma "vaga latina" nessa categoria, ela foi ocupada por um vencedor do Oscar, o espanhol Javier Bardem ("Biutiful").
Aliás, as 20 vagas para atores e atrizes são as que costumam criar, inevitavelmente, a maior lista de esquecidos. Neste ano, a imprensa dos Estados Unidos acreditava em indicação para Michael Douglas (por "O Solteirão" ou "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme"), que enfrenta problemas graves de saúde, quase sempre um apelo ao qual a Academia não resiste. Leonardo DiCaprio ("Ilha do Medo" e "A Origem"), Matt Damon ("Bravura Indômita"), Barbara Hershey ("Orquídea Negra"), Pierce Brosnan ("O Escritor Fantasma"), Robert Duvall ("Get Low"), Vincent Cassel ("Inimigo Público nº 1") e Halle Berry ("Frankie e Alice") também estavam entre os possíveis candidatos que não chegaram à relação final.
* Sérgio Rizzo é jornalista e professor. É colunista de cinema no Yahoo! Brasil e nas revistas Educação, Escola Pública, Língua Portuguesa, Ideia Socioambiental e Viração. Dá aulas na Universidade Mackenzie, na FAAP, na Academia Internacional de Cinema e na Casa do Saber.
Desde que o sucesso internacional de "Amnésia" (2000) fez sua carreira decolar, o diretor e roteirista inglês Christopher Nolan repaginou a franquia Batman, em "Batman Begins" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008), e conjugou efeitos de última geração a uma história espiralada em "A Origem" (2010), um dos grandes sucessos da última temporada. De quebra, ainda dirigiu um roteiro alheio (e um excelente trio de atores -- Al Pacino, Robin Williams, Hilary Swank) no lúgubre "Insônia" (2002).
Por esse currículo expressivo, Nolan é um dos principais diretores em atividade na indústria dos Estados Unidos, certo? Para a Academia de Hollywood, a resposta ainda é "mais ou menos". Somados, os cinco filmes acima receberam 19 indicações para o Oscar -- duas para "Amnésia" (uma para Nolan, pelo roteiro original), uma para "Batman Begins", oito para "O Cavaleiro das Trevas" (que levou dois Oscar) e mais oito para "A Origem" (duas para Nolan, pelo roteiro original e como co-produtor).
A nova ausência de Nolan entre os diretores que disputam o Oscar chama a atenção por demonstrar como a Academia, embora rejuvenescida na última década, continua a tratar espetáculos de diversão com algum preconceito. Curiosamente, um dos três indicados pela primeira vez nessa categoria é Darren Aronofsky ("Cisne Negro"), que começou a trabalhar na repaginação de Batman e foi dispensado. Os outros dois, Tom Hooper ("O Discurso do Rei") e David O. Russell ("O Vencedor"), têm carreira bem mais discreta do que a de Nolan.
Não há problema entre os próprios colegas: Nolan já disputou o prêmio do DGA (Directors Guild of America), o sindicato dos diretores, por "Amnésia" e "O Cavaleiro das Trevas", e está novamente na briga por "A Origem" (ocupando vaga que, no Oscar, ficou com os irmãos Coen por "Bravura Indômita"). Se ele vencer, será apenas a sétima vez desde a criação do prêmio do sindicato, em 1948, que o eleito pelo DGA não coincide com o vencedor do Oscar -- a mais recente foi em 2002, quando Rob Marshall ("Chicago") teve a preferência do sindicato e Roman Polanski ("O Pianista"), a da Academia.
Nolan, 40 anos, sabe que o Oscar de direção tem seus caprichos. Steven Spielberg estava com 47 anos quando finalmente levou a estatueta para casa, na quinta indicação, por "A Lista de Schindler" (1993), e 52 anos quando repetiu a dose, por "O Resgate do Soldado Ryan" (1998). Martin Scorsese estava com 64 anos quando se emocionou ao receber afinal o prêmio, na sexta indicação, por "Os Infiltrados" (2006). Alfred Hitchcock, Howard Hawks e Stanley Kubrick, três dos maiores cineastas na história de Hollywood, jamais receberam o Oscar da categoria em que foram mestres incontestáveis.
Por falar em Scorsese, "Ilha do Medo" -- que teve boa recepção de público, em 19º no ranking de bilheteria da temporada -- ficou sem nenhuma indicação. Dos 20 maiores sucessos do ano nos Estados Unidos, apenas três disputam o Oscar em categorias importantes: "Toy Story 3", o número 1, deve faturar o Oscar de longa de animação; "A Origem", o quinto no ranking, e "Bravura Indômita", o 17º, disputam o Oscar de melhor filme.
"Um Lugar Qualquer", de Sofia Coppola, que recebeu o Leão de Ouro em Veneza e deve estrear no Brasil na próxima sexta-feira (28), também passou em branco nas indicações, assim como o francês "Carlos", de Olivier Assayas, que alguns críticos norte-americanos gostariam de ver entre os 10 candidatos a melhor filme, além de apostarem na indicação do venezuelano Édgar Ramírez para o Oscar de melhor ator. Mas, se havia uma "vaga latina" nessa categoria, ela foi ocupada por um vencedor do Oscar, o espanhol Javier Bardem ("Biutiful").
Aliás, as 20 vagas para atores e atrizes são as que costumam criar, inevitavelmente, a maior lista de esquecidos. Neste ano, a imprensa dos Estados Unidos acreditava em indicação para Michael Douglas (por "O Solteirão" ou "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme"), que enfrenta problemas graves de saúde, quase sempre um apelo ao qual a Academia não resiste. Leonardo DiCaprio ("Ilha do Medo" e "A Origem"), Matt Damon ("Bravura Indômita"), Barbara Hershey ("Orquídea Negra"), Pierce Brosnan ("O Escritor Fantasma"), Robert Duvall ("Get Low"), Vincent Cassel ("Inimigo Público nº 1") e Halle Berry ("Frankie e Alice") também estavam entre os possíveis candidatos que não chegaram à relação final.
* Sérgio Rizzo é jornalista e professor. É colunista de cinema no Yahoo! Brasil e nas revistas Educação, Escola Pública, Língua Portuguesa, Ideia Socioambiental e Viração. Dá aulas na Universidade Mackenzie, na FAAP, na Academia Internacional de Cinema e na Casa do Saber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário