Resolvi compartilhar por aqui, algumas das apresentações que assisti, com alguns comentários e inquietações. Foi muito importante participar desse evento para entender melhor como funcionam os GTs, e quem sabe no ano que vem, estarei lá novamente, apresentando alguma parte da minha pesquisa!!
Achei o evento um pouco desorganizado (ninguém sabia dar informações corretamente), muitas mesas começavam atrasadas e MUITAS pessoas leram textos com linguagem completamente acadêmica (raras exceções), dificultando a compreensão e reduzindo as possibilidades de discussão. As apresentações às vezes contavam com mais participantes do que ouvintes. Houve pouco espaço pra discussão aberta e infelizmente as mesas sobre educação e cinema foram marcadas todas no mesmo horário, então tive que priorizar algumas, sem poder participar de todas as outras. Pareceu-me um evento fechado, com pouca divulgação e preocupado meramente com publicações oficiais, que irão rechear o currículo de quem apresentou, sem a menor preocupação em compartilhar tudo isso com a sociedade, afinal muitos desses estudos são financiados pelas universidades públicas, ou seja, pela população.
Ao mesmo tempo, sei que foi um evento que começou pequeno e foi crescendo, ainda deixando a desejar, mas mostrando alguns avanços.
A área de pesquisa em cinema e audiovisual ainda é pouco reconhecida, então é super importante compartilhar trabalhos, discutí-los e lutar por reconhecimento.
Seguem então, alguns dos trabalhos, com foco maior nas pesquisas relacionadas à cinema e educação!
20/09/11 - Conferência de Abertura com Laura Mulvey – apresentada por Ismail Xavier
Título: Teoria do cinema feminista em tempos de mudança tecnológica: novas formas de espectatorialidade
Houve uma mudança acentuada no significado psicanalítico do espectador de cinema entre a era da película projetada no escuro a 24 quadros por segundo e a atual era digital. Nesta palestra Laura volta-se aos filmes do sistema de estúdios de Hollywood para discutir as maneiras pelas quais a capacidade do espectador de intervir no fluxo dos filmes tem afetado o desejo, a narrativa e o espetáculo cinematográficos. Uma reflexão sobre a mudança da “paisagem espectatorial” e suas implicações para as teorias do espectador.
Comentário: A conferência tinha tradução simultânea (cada pessoa usava um aparelho com fones), que em diversos momentos pecou na tradução, com demora para articular as falas e idéias de Laura. Ela iniciou sua fala sobre ‘prazer visual e cinema narrativo’, associando o tema do encontro este ano “Imaginários invisíveis” aos clichês (mulher-objeto; homem-herói), sendo possível encontrar algo de precioso, a partir das novas tecnologias disponíveis. (retardar e acelerar da imagem e interferência do espectador com o ‘poder do controle’) Laura disse que suas teorias escritas até então, perderam a relevância diante dessas novas tecnologias. É possível ver algo de performático, congelando uma imagem, como ela demonstra com Marilyn Monroe no filme “Os homens preferem as loiras” (1953), ao mesmo tempo, esse poder do espectador de controlar a velocidade da imagem, revelando uma outra figura e ação masculina, enfraquecendo o fluxo narrativo. Ela diz que o cinema de 24 quadros por segundo, não previa essa capacidade de controlar a imagem, revelando precisões que muitos mecanismos escondiam nas performances dos atores e atrizes.
21/09/11 – Sessões de comunicações individuais
Alunos fazendo e estudando cinema
Alita Villas Boas de Sá Rego (coordenadora) - Laborav: Audiovisual e colaboração na Periferia do Rio de Janeiro
Comentário: Alita inicia sua fala, colocando a situação dos estudantes de periferias, que não freqüentam o cinema, e são espectadores de televisão aberta, e às vezes dos DVDs piratas que circulam nas comunidades. Com a idéia de montar um cineclube, percebeu que sem formação de platéia, as salas ficavam vazias. Montou então o LABORAV (sua fonte de pesquisa), dispositivo para produção, projeto de extensão onde os alunos de graduação de baixa renda de Caxias – Baixada Fluminense (?), produzem vídeos (sem interferência de técnicos) com temas, como medo ou filmam com um plano só. O curso de pedagogia tem uma estrutura completa montada, com webtv, rádio, etc. Os alunos criaram programas como “Quem cala, consente”, onde entrevistam estátuas, e o “Voz Urbana”, onde a câmera filma um palanque onde as pessoas falam o que quiserem. Ela também constatou, que é natural a reprodução de clichês nas produções dos alunos, ainda que tenham abertura e oportunidade de fazer o que quiserem. E agora, com o projeto consolidado, o cineclube já tem platéia e grupos de estudos teóricos.
Mariana Porto de Queiroz - Escola engenho: criação de uma escola de cinema pra crianças no Recife
Comentário: Mariana inscreveu seu projeto num edital do estado e sendo aprovado, iniciou seus trabalhos numa escola de cinema, que acabou se ampliando com o passar do tempo. Seu público são 20 crianças de 6 a 12 anos da periferia do Recife, que não vão ao cinema (equivalente a fala de Alita) A idéia era formação de platéia, para implementar cineclube e ampliar o repertório dos alunos, e formando vínculo com a comunidade. Ela chamou 6 realizadores de audiovisual (foco na prática) para colaborar com a formação dos alunos, sem terem qualquer experiência pedagógica, tendo que adaptar suas metodologias para aquele contexto. Os oficineiros tem aulas e diários, como forma de debaterem sobre sua própria formação e experiência com os alunos, procurando sempre melhorias. Também falou do uso de clichês e a tentativa do grupo de libertar a criatividade dos alunos. Comentou ainda do choque cultural entre os oficineiros e alunos, com visões e realidades tão diferentes, onde a escola passou a aceitar o que eles traziam, trabalhando em cima desse repertório. Os alunos tem alunas de técnicas, mas também der discussões, fazendo visitas em museus, intervenções na comunidade, projeções nas ruas, além de trabalhos para estimular a concetração e valores importantes no mundo cinematográfico. O projeto então tem esse aspecto de transformação social, envolvendo toda comunidade. Uma das bases teóricas vem de Deleuze, onde a experimentação é uma forma de adquirir conhecimento, aprendendo com os erros.
Marcos Magalhães - Animação espontânea – Criação e aprendizado na linguagem de animação.
Comentário: Marcos focou sua apresentação na relação da história da animação com o cinema, mostrando diversas experimentações suas e de outros. Deu aula no curso de Design, que tem como ponto em comum com a animação, a manipulação do que está entre imagens. Desde o princípio da humanidade, havia uma tentativa de dar movimento aos desenhos, com a arte rupestre, na tentativa de contar uma história. Foi a animação que originou o cinema, mas com o tempo, ocorreu um deslocamento entre os dois, como se fossem coisas diferentes. Ele cita dois tipos de animação, “contínua” (um desenho depois do outro) e “com posições chaves” (ação gradativa). Marcos trabalha no Animamundi (existe há 10 anos) e oferece oficinas, onde ajuda na formação de professores e uso da animação em sala de aula com crianças. E com o debate aberto, mais uma vez foi dito que o contato com audiovisual promove transformações sociais, onde a ênfase deve ser na prática, valorizando a experimentação e a capacidade de sair do lugar-comum.
Alexandre Buccini - Cinema na Escola - A hora dos alunos “fazerem” cinema documentário
Comentário: Alexandre é professor de universidade e de geografia no Ensino Médio de uma escola de classe alta de São Paulo. Ele sabe que há estudos sobre o uso de cinema, mas encontrou poucas referências com foco na prática. (cinema como linguagem) Sua curiosidade em saber qual é a formação do público de classe alta, originou sua pesquisa de doutorado. Percebeu que os alunos tinham uma visão de mundo muito conservadora (homofobia, exclusão social) e um equivocado julgamento do seu próprio contexto histórico. Iniciou um projeto na disciplina de geografia, com produção de documentário, feita pelos alunos, com exibição no festival da escola no final do ano. E diz que esse pensamento conservador passou a ser desconstruído na medida em que os alunos precisavam pesquisar e entrar em contato com os temas dos documentários.
Painéis
Imaginário e alteridade
Aldenira Mota do Nascimento - CINEMA E EDUCAÇÃO: uma reflexão sobre a produção audiovisual na escola
Comentário: Aldenira é professora assistente (acompanhamento de escola em tempo integral) de uma escola particular do Rio e trabalha com o 8º ano. Com a rivalidade entre os alunos, buscou no cinema uma forma de promover discussões em temas como democracia. Ela não tinha formação e faltava equipamento, mas buscou parceiros e técnicos para ajudar no seu projeto. Tem como referência Alain Bergala, Rosália Duarte e Mônica Fantin. Ela exibiu um vídeo de seus alunos e percebi que não há critério estético com suas produções. Plano parado, sem composição, representação equivalente ao teatro (de mentirinha). Essa experiência é seu ponto de partida da pesquisa de mestrado.
Anderson Silva Vieira - Timor-Leste, cinema e a invenção do Nós
Comentário: O tema não me interessa muito, mas Anderson falou de como o Timor-Leste tem utilizado o audiovisual por uma busca de identidade, na tentativa de resgatar sua história. O uso de documentário é o mais freqüente, e a estrutura ainda é carente. O público consumidor de cinema ainda está em formação.
Mirian Ou - O filme-família, Hollywood e o imaginário internacional-popular
Comentário: Mirian tem como foco de pesquisa, filmes-família, que tem o objetivo de atingir um público amplo. Percebeu que os filmes-família são os que ocupam as posições de maior bilheteria. Senti falta de ela falar sobre a narrativa clássica hollywoodiana associado ao lúdico. Ela listou algumas características dos filmes-família que se apresentam justamente nessa relação. Personagens-animais, universos fantasiosos, imagem família (dois adultos e duas crianças), etc. Ela também comentou que são filmes que se projetam para outras áreas do mercado. Também senti falta de ela comentar sobre narrativa transmídia, que não é exatamente o caso, mas tem foco na continuidade do produto cinematográfico.
Seminários temáticos
TV: formas audiovisuais de ficção e documentário
Beatriz Becker - No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais: TV e Educação
Comentário: Beatriz inicia sua fala com a recorrência de discursos que subestimam o repertório e potencial dos alunos. A pergunta “Como a educação pode compreender a mídia e viceversa?” levou-a a um estudo de caso do programa “No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais”, com direção de Cao Hambúrguer, com duração de 16 episódios na TV FUTURA. Em parceria com outro pesquisador, apresentaram sua pesquisa em forma de um pequeno documentário, buscando fazer uma leitura crítica a partir da narrativa, temática, som, edição, etc. O documentário apresenta comentários críticos a partir de exemplos mostrados. Eles acreditam que o programa ajuda a desconstruir os códigos de linguagem da televisão, além de técnicas de animação, mistura personagens fictícios e entrevistas com profissionais da área do cinema e do audiovisual. Apelam para o cômico, ‘brincando’ com a idéia de um espectador passivo, retratada de forma ‘caricaturizada’. E a partir desta leitura crítica, conclui que a TV é sim um espaço de aprendizagem, utilizando este programa como exemplo.
Sessões de comunicações individuais
TECNO-LOGIAS
Maria Helena Braga e Vaz da Costa - Cinema, Tecnologia, Arte: Uma visão crítica sobre a cor no cinema
Comentário: Mª Helena é do Rio Grande do Norte e iniciou sua fala fazendo um mapeamento sobra a introdução das tecnologias no cinema, com foco específico sobre a cor. Ela disse que a cor no cinema, causou impactos econômicos e sociais. Apresentou 4 principais teorias sobre a introdução da cor nos filmes, com as seguintes justificativas (resumo meu): 1. Uso da cor para dar um senso maior de realidade; 2. Para aumentar a possibilidade de criação de novos gêneros; 3. Uma nova forma de lucrar, atraindo o público; 4. Potencializar efeitos dramáticos. E em seguida, ela apresenta suas contraposições: 1. A cor quando introduzida foi utilizada muito mais para experimentos estéticos não-realistas; Ela diz que quando o som surgiu, imediatamente os modos de fazer filmes foram interrompidos e inovados, mas com a introdução da cor, demorou certo tempo para ser incorporada. Somente assumiu ‘seu posto’ na década de 60, para competir com a TV a cores. E a cor era muito associada à fantasia. 2. Mª Helena mostrou um trecho do filme preto&branco ‘Jezebel’ (1938), para exemplificar o uso do contraste claro/escuro (debutante que utiliza vestido ‘vermelho’, se destacando das demais) já incorporado antes da utilização da cor. O realismo não estaria associado a presença da cor, pois outros elementos cumpriam esse papel. 4. Ela nos mostra um trecho de ‘Um corpo que cai’ (1964) com utilização da cor na parede associada ao personagem e ‘Marnie’ (1964) (os dois de Hitchcock) close na bolsa branca da personagem cleptomaníaca. Com isto, ela diz que a cor destaca também elementos, além dos efeitos dramáticos. O filme preto&branco passa a ser uma opção estética, assim como foi os filmes mudos. Ex.: “A lista de Schindler”, ausência da cor para contextualizar um momento histórico, mas uso do vestido vermelho para efeito dramático e deixar o espectador atento.
Mª Helena diz que a adoção de uma nova tecnologia sempre proporciona novos experimentos. E lembra que nos anos 80 foi muito comum colorizar filmes realizados em preto&branco para atrair o público a assistir filmes antigos. Eu coloco a questão do cinema 3D de alta resolução como um terceiro grande marco, e a mesa (outros participantes) acham possível que seja, mas ‘é ver para crer’! Diferente da som, a cor foi melhor aceita por apontar maiores possibilidades de criação e experimentação.
22/09/11 – Mesas temáticas
Ajudando a dar rosto ao futuro: o cinema como espaço de reflexão e transformação
Maria Cristina Miranda da Silva - Cinema e educação - uma experiência de reinvenção
Comentário: Maria comenta sobre a pedagogia godardiana, considerando o cinema como experiência artística, espaço de aprendizado e contribuição para formação de professor. Traz inquietações como “Como ensinar cinema?”; “Como fazer cinema como arte?”; “Como trabalhar o gosto pelo cinema de arte”. Ela cita Godard, que acredita na necessidade de ‘despertar o olhar’ do espectador. E gostar de cinema, já seria uma forma de aprender a fazer cinema. Ele diz que aprendeu muito assistindo filmes na sua juventude e isso o ajudou em suas criações fílmicas. Com isto, Maria ressalta a importância de cinematecas (acervos) e dos cineclubes (espaço de exibição e discussão de filmes) e acredita no cinema como instância educativa, sendo a linguagem audiovisual (cinema ampliado) de extrema importância nas escolas. Ela apresenta alguns pontos para pensar o cinema hoje: 1. Considerar o primeiro cinema e sua relação com o cinema de atrações e espetáculos, através de re-criações. 2. Considerar o cinema narrativo clássico (Griffith) como forma de espetáculo de massa e pensar nas possibilidades diferentes das narrativas. 3. União do cinema e das novas tecnologias (ex.: livecinema) e o artista que reinventa a arte. (Arlindo Machado) Ela cita novamente Godard, sobre aquilo que é visível no cinema e o invisível que é visto através do visível. Para isso é preciso um olhar sensível, como espectador e realizador, no contexto educativo, um ensinar a aprender, ampliar o campo de visão, descrever com a câmera, inverter teoria-prática para uma prática-teoria. No campo da educação é preciso estimular a decupagem das imagens, além da busca em experimentar e reinventar o cinema.
José de Sousa Miguel Lopes - O Conformista: conflitos políticos e morais sob o manto do autoritarismo
Comentário: Esta apresentação não me interessou muito, mas algumas colocações foram pertinentes. José discursou sobre o filme “O conformista” e falou sobre o uso do cinema, de filmes como alegorias políticas. Diz que a educação deve contribuir para a autonomia do sujeito de decidir o rumo de sua vida. (Emancipação de Kant?) E que qualquer autoritarismo aniquila qualquer possibilidade de autonomia.
Selma Tavares Rebello – O Debate no Cineclube da UFRJ numa Perspectiva de Releitura da Prática
Comentário: Selma fala da importância do Cineclube (aprendizagem não-formal), que é um espaço que possibilita contato com a arte e discussão a partir de questionamentos e inquietações sobre o filme, e que a partir dele (experiência na UFRJ com foco em alunos da Pedagogia e da graduação em geral), com temáticas sobre educação, é possível provocar releituras na prática pedagógica e leituras críticas dos filmes. Para o debate ser ainda mais rico, o cineclube conta com a presença de professores e cineastas e suas respectivas contribuições. Ela considera a arte uma ‘forma de representar os sentimentos do mundo’, não pretende ensinar nada, mas apresentar. Considerando o espaço único e limitado, os critérios de escolha dos filmes é rigoroso, com foco em filmes que fogem do padrão comercial. Ela traz as seguintes inquietações “É possível mudar alguma visão de mundo a partir da prática de ver filmes?!”; Ou ainda, “promover notas leituras sobre educação?”; “O que fazemos? Para quê e para quem?! Neste sentido, é importante impregnar no pensamento pedagógico a arte, experiência dos sentidos, o olhar do outro a partir do nosso e entender o espaço do cineclube, como um lugar para o ato criativo. Ela cita suas referências (Alain Bergala, Rosália Duarte, Ismail Xavier, Arlindo Machado e Bordieu) e diz que a competência para ver filmes não se restringe em apenas assistir filmes, é preciso discuti-los, problematizá-los.
Debate: Após as apresentações, foi iniciado um debate a partir das questões dos participantes ouvintes. E José diz que ‘ver um filme e não discuti-lo é destruir todo seu potencial educativo’. Todos os três defenderam a exclusão do cinema comercial em sala de aula ou nos cineclubes, para valorizar o tempo com obras artísticas, privilegiando a diversidade, a partir de filmes de pouco e difícil acesso. Eu me pergunto se isso não é um certo autoritarismo, impor somente um determinado tipo de cinema para contrapor com o repertório supostamente já formado com cinema comercial, contradizendo a fala anterior de José. Ele também comenta sobre o professor-herói caracterizado nos filmes hollywoodianos, em contraste com o professor do filme “Entre os muros da escola”. Falou que o cinema hollywoodiano não é a mesma coisa que cinema norte-americano. Foi aí que levantei a seguinte questão: “Se no espaço da escola só se deve discutir um ‘outro’ cinema, qual seria então o espaço para discutir o repertório que eles já carregam?! Apresentar um ‘outro’ cinema é suficiente para dar conta?! Não deveria haver discussão nos dois casos, ressaltando justamente as diferenças?!’ Como julgar um filme de arte?! Como aproveitar o repertório?! Porque exibir só o que é de vanguarda?! Não existe uma questão de gosto também, muito pessoal?! Um ver ‘além’ não se aplica a qualquer pessoa, pois nem todos dos filmes permitem ‘ver’ além, só por se pretenderem para tal, vai depender da experiência pessoal e relação de cada pessoa com o filme.
Seminários temáticos
TV: formas audiovisuais de ficção e documentário
Arlindo Ribeiro Machado Neto - A Morte da Televisão segundo Lost
Comentário: Arlindo exemplificou características e desdobramentos do seriado Lost como uma forma de narrativa transmídia bem sucedida na televisão. (Partindo do conceito de Henry Jenkins, que exemplificou ‘Matrix’ no caso do cinema). Lost revolucionou a forma de se fazer televisão, criando espaços parelelos à narrativa seriada, como jogos, enigmas para serem desvendados em pistas espalhadas em programações, cartazes, produtos, etc. Nesse sentido, interromper uma temporada, não significava o desligamento temporário dos fãs, durante o período de pausa, as experiências e enigmas continuavam. Tudo isso provoca uma excitação, uma atração, para um espectador que se recusa a ser passivo e passa a ser ativo e participante. Como o próprio Jenkis diz, tudo isso tem uma relação com mercado e marketing, mas é um fenômeno que fez a TV morrer e renascer de uma outra forma.
Eduardo Tulio Baggio e João Carlos Massarolo também fizeram apresentações, mas as considerei irrelevantes diante do que já havia sido falado. Apenas destaco que a TV passa por um processo de transformação, na qual a necessidade de criação de universos se faz necessária. Universos onde o espectador possa participar ativamente, produzir e consumir conhecimento e informação.
No contexto brasileiro, Arlindo Machado diz que a TV Globo é ainda muito conservadora, mas o programa-novelinha Malhação se apresenta como uma tentativa de narrativa transmídia, com vídeos paralelos em sites (início em 2009), opções de personalização e agora com perfis dos personagens no twitter.
23/09/11 – SESSÕES DE COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS
ENCONTROS ENTRE AUDIOVISUAL E DOCÊNCIA
Inês Assunção de Castro Teixeira (coordenadora) - Sob a “Câmera de Nestor Canclini”: ancoragem para encontros entre cinema e docência
Comentário: Inês é fundadora da rede Kinos e apresentou um panorama sobre o autor Canclini (vida e obras, olhar para América Latina) e citou 4 pontos de partida no contexto da educação. 1. Formação de professores com foco no estímulo às questões éticas, estéticas, poéticas, intelectuais, etc. 2. Quebra de dicotomias e pensar de forma mais experimental, típico do campo da arte, mais distante da ciência. ‘hibridização’. 3. Pensar o mundo contemporâneo para além do mundo, considerando a arte como possibilidade de iminência, deixar acontecer, deixar chegar e como possibilidade de criação do inexistente. 4. Considerar a arte como construção social, entre relações sociais, dentro de um mercado. Cidadania também envolve consumo, cabe se perguntar “Qual consumo?” Ela encerra dizendo que o cinema pode ajudar a trabalhar a sensibilidade dos professores.
Ana Paula Nunes - Metodologias de quadro a quadro
Comentário: Ana tem formação em cinema e audiovisual e participa de um projeto de extensão chamado ‘quadro a quadro’, fazendo referência ao quadro de uma sala de aula e quadro de uma sala de cinema. Ela inicia a fala, dizendo que a pesquisa sobre cinema ainda precisa de reconhecimento, pois ainda não está inserido nos currículos educacionais. (Fernão Ramos considera o cinema uma área do conhecimento). Ela diz que pouco se pensa sobre metodologias possíveis (fugindo de ‘receitas’ aplicadas na sala de aula). Falta uma normatização dessas experiências. Cita 2 linhas de pensamento, entendendo o cinema como arte e comunicação: educomunicação e arteducação. (Mídia-educação NADA!!) Na educomunicação se considera a pedagogia da linguagem total. Na arteducação, com referência em Alain Bergala, considera o cinema como arte. Ela coloca aproximações e diferenças entre estas duas linhas de pensamento. Diz que existem longas experiências que não são sistematizadas, resultando sempre em recomeços. Cita Paulo Freire, saber como prática, onde as atividades dos alunos se baseiam em compromissos voluntários. Logo depois coloca algumas propostas. 1. 5 pistas para trabalhar o cinema, além do rádio, TV e cinema, considerando as palavras, imagens, sons (voz, ruído e música). Fala de uma aproximação com a cultura popular. 2. A partir de Bergala, outra proposta envolve uma análise criativa e crítica. Foco na percepção, intuição, criatividade, reflexão. Bergala diz que a verdadeira reflexão nasce da prática. E propõe ainda que o processo de leitura crítica se inicie com imagens fixas, para depois trabalhar as imagens móveis. Porém Ana diz que a visão de Bergala é muito radical, pois ele considera a televisão e os produtos de consumo uma ‘miséria’ e quem os utiliza em sala de aula é um ‘traidor’.
Paulo Roberto Montanaro - A transmídia e a busca de uma nova linguagem audiovisual para EaD
Comentário: Paulo contextualizou o que seria uma narrativa transmídia e disse que até agora ela só foi aplicada em bens de consumo. Sua pesquisa parte de inquietações de como aproveitar a narrativa transmídia no contexto educativo, com foco em EAD, que utiliza o audiovisual como material pedagógico e instrucional. Paula ressalta a importância de criar vídeos atrativos e dinâmicos, pois a monotonia dificulta a apreensão do conteúdo e causa desinteresse. Ele diz que os vídeos produzidos para EAD não são ficção e nem documentário, por isso é preciso formular uma nova linguagem para essa área. Cita Vygotsky para ressaltar a importância do diálogo e de alguém que pensa na educação com participação ativa. Após sua fala, comentei do Projeto do LANTEC, Eproinfo que poderia ser considerado um projeto inovador de narrativa transmídia no contexto educativo, voltado para EAD. Citei o ‘conceito’ (não sei ao certo) de estudos autônomos, que eles evocam no projeto. O projeto ainda está em construção e será implementado no Portal do Professor, para ajudá-lo a fazer uso das mídias, como usuário e professor, utilizando diversas plataformas como suporte pedagógico, como criação de blogs, pesquisa na internet, elaboração de textos, acesso à vídeos em diversos canais, etc.
PRODUÇÃO CASEIRA E RECEPÇÃO NO ESPAÇO VIRTUAL
Lígia Azevedo Diogo - Vídeos de família analógicos: a produção doméstica pré-YouTube
Comentário: Lígia faz uma apresentação sobre sua pesquisa se mestrado, relacionando imagens de família de vídeos analógicos com as produções domésticas do youtube. Comenta sobre a falta de pesquisa sobre o assunto e na despreocupação em preservar este material. Porém senti falta da relação com a história do cinema, que apresenta no início de sua história, registros familiares, hoje considerados relevantes e históricos, além de não ter falado da atual digitalização dos vídeos analógicos.
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