"Ir onde ninguém foi. Pisar onde ninguém pisou. (...) Mas tudo que podíamos fazer era chegar antes." (ou algo assim) é a fala final de Cláudio Villas Boas (João Miguel).
'Chegar antes', às vezes, é a única opção que nos resta para muitos dos problemas sociais que vivenciamos diariamente. 'Evitar', 'preservar', 'tentar'...
O filme é uma interessante forma de conhecer parte de nossa história, numa época de exploração (brutal) de novas terras e contato com uma 'nova' cultura, ainda não 'civilizada' dos índios brasileiros, realizada 'pacificamente' pelos irmãos Villas-Bôas em busca de aventura (perspectiva do filme).
A narrativa é sutil, delicada, sem exageros ou excessos, até romântica talvez, para falar de um assunto sério, triste, vergonhoso e ainda atual. As negociações por terras, a luta para preservar as tribos, os romances, a exploração da força de trabalho e das 'novas' terras, tudo sutil, fragmentado, quase poético, ainda que contado de forma linear.
Será que teria sido possível preservar a cultura indígena sem o Parque Nacional do Xingu? Ou teria sido possível preservar tribos intocadas, se homens 'instruídos' como os Villas-Bôas não tivessem 'interferido' no processo e sido usados para negociações pacifícas?!
Qualquer posição gera um pouco de polêmica, mas eu prefiro pensar que o pouco que se tem, às vezes é melhor que nada! Em terra de 'ninguém', quem tem olho (ou um parque) é rei!
E aqui neste post, não me detive aos detalhes técnicos (bela fotografia, atuações convicentes, mas contrastantes, direção de arte bacana), mas apenas à reflexão triste que ficou ao final do filme, onde meus olhos se embriagaram de lágrimas ao ver o que nós 'homens civilizados' estamos fazendo em prol do (re)progresso, sempre às custas de destruição. O que fizemos dos nossos índios? O que fizemos com nossa cultura? O que fazemos conosco diariamente?
E falar de 'nossa cultura' não é apenas falar do passado dos índios, mas da nossa cultura própria, de nós mesmos, nosso eu interior, invadido cada vez mais pelo consumismo e alienação geral. Comprar cada vez mais, pensar cada vez menos.
Como sempre, o problema está em não refletir sobre nada, apenas agir e viver achando que não temos relação nenhuma com o problema dos outros, seja de fome, violência, educação, droga, corrupção e muitos outros afins. Cada um no 'seu quadrado' e só.
Ir ao cinema, prestigiar um filme nacional, já considero um primeiro passo, (até pra mim) uma atitude diferente, ainda que o filme tenha sido feito dentro dos padrões mercadológicos da nossa própria (ainda tímida) indústria cinematográfica. (sempre os patrocinadores, que financiam a produção cultural, mas também o consumo!)
Antes conhecer um pouquinho da nossa história e cultura, do que esvaziar nossas mentes (como sempre fazemos e gostamos de fazer, admito) com filmes superficiais de ação, romance e comédia.
'Xingu' é um filme necessário, não prazeroso, mas necessário. Com o pouco que é (se não muito), no mínimo nos faz pensar! Consumir menos, afinal sempre seremos seres necessariamente consumidores de algo, mas pensar mais, muito mais!! =)
Trailer aqui.
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