quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Criação" de Jon Amiel 2009


O filme é baseado no livro “Annie’s Box” de Randal Reynes (tataraneto de Charles Darwin)  e faz um recorte da vida de Darwin durante seus estudos de elaboração da teoria da evolução, onde luta para encontrar um equilíbrio entre suas teorias revolucionárias sobre evolução e seu relacionamento com sua esposa, cuja fé religiosa contradiz seu trabalho. A perda da filha mais velha Annie, aos dez anos, passou a influenciar a visão de Darwin sobre a religião.

Mais uma vez, a ciência e a religião parecem se confrontar diante dos 'mistérios' da vida humana.  Darwin (Paul Bettany), com 40 anos é cercado pela família, e se apresenta num grande conflito entre a perda da fé religiosa, ao observar, estudar e evidenciar intensamente as estruturas físicas das mais variadas espécies de seres vivos e suas relações em comum.

A cada descoberta, uma grande sensação de pavor e culpa toma conta de Darwin, que projeta no fantasma da filha mais velha, suas fugas e frustrações. Na tentativa de controlar suas emoções e contornar a culpa da perda, tranca em um baú, tudo que escreveu e pesquisou ao longo dos anos. A culpa o consome de uma maneira, que ao não ter controle sobre a vida de quem mais prezava, Darwin se afasta da esposa, dos outros três filhos e da própria pesquisa, desiludido com as surpresas da vida humana, muitas vezes as grandes responsáveis pelas perdas de fé religiosa. Seria um medo da perda?! Seria sentir segurança com o distanciamento?! Seria um último apego a fé religiosa?!

As inquietações e inseguranças de Darwin relacionadas à fé religiosa o enfraquecem diariamente, dificultando cada vez mais sua relação familiar e a clareza necessária para escrever sobre sua pesquisa. Quanto mais estuda, mais perde a fé, mas quanto mais perde a fé, mais se culpa e se pune, vivendo um círculo vicioso de desequílibrio emocional, que o impede de escolher no que acreditar. Seria sua perda da fé a grande responsável pela perda da filha?! Teria faltado fé para salvá-la?!

A medida que ele estuda e testa hipóteses para a evolução das espécies, entrando em contato com outras percepções e experiências, percebe que sua relação genética de primo-irmão com a esposa foi a grande causa da 'fraqueza' física da filha emocionalmente forte e considerada por ele, 'perfeita'. Um problema genético e não um castigo divino, devolvendo a força emocional e física que Darwin precisava para começar a escrever sua teoria e lidar com as conseqüências dela.

Ao 'abrir o baú' e libertar-se da fé religiosa, liberta também pensamentos, ideias e hipóteses, com a consciência de que ao publicá-los, causará uma grande revolução na História da Humanidade, tão centrada naquele contexto nas explicações divinas para diversos fenômenos da natureza.

Estudar 'bilhões de anos de evolução em apenas 8 anos' não é suficiente para explicar todos os fenômenos existentes e talvez nunca exista o tempo suficiente para avaliar todas as transformações que sofremos ao longo de tanto tempo, mas é tempo suficiente de enfraquecer discursos religiosos baseados em explicações divinas, sem abertura para questionamentos e estudos de hipóteses. Para a fé religiosa, basta acreditar!! Para a ciência, é preciso testar, comprovar, argumentar e questionar!! E para que não haja extremos, talvez a filosofia (pensar sobre o pensar) seja uma grande aliada para qualquer tipo crença.

O que seria da Humanidade se não duvidasse dos fenômenos que a cercam?! E duvidar inclusive da própria fé, que muitas vezes precisa ser renovada para não enfraquecer as relações humanas e dificultar as sensações de perda e culpa. Se a 'teoria da evolução e seleção natural, resulta na adaptação de determinados indivíduos ao ambiente, frente a outros não adaptados' e por meio da 'seleção natural, preserva as raças favorecidas na luta pela vida', manter-se forte emocionalmente diante de qualquer tipo de perda física, como a morte possibilita, seria sobreviver ao mundo hostil?! Estaria a fraqueza emocional relacionada às fraquezas físicas?! Ou ambas independem entre si?! 

Se a filha de Darwin morreu por uma fraqueza genética, foi por pouco que Darwin não morreu por uma fraqueza emocional. Ambas parecem confrontar a espécie humana e forçá-la a se enfraquecer ou se fortalecer diante de qualquer tipo de dificuldade, para que possa sobreviver ao mundo, independente de como se apresente, buscando sempre se adaptar ao que for possível. Sendo ou não um ambiente hostil, parece que nós enquanto humanos, diferente dos outros animais, estamos condenados a sofrer testes de sobrevivência, seja físico ou emocional. Com tanto potencial intelectual, ainda que supere as limitações físicas de fragilidade, o homem parece ser de todas as espécies, o mais afetado emocionalmente.Que venham as perdas, as crises e instabilidades nos testar e viva o 'mais forte'!!

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