segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pela primeira vez em 15 anos, distribuidora brasileira lidera mercado cinema

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Apesar de comemorados, os sucessos do cinema brasileiro da chamada era da retomada, iniciada com a Lei do Audiovisual, deixavam um travo de incômodo em parte do mercado. É que todos eram fruto de uma vitória comercial, sob certo aspecto, mais estrangeira do que nacional. Explique-se.

Um artigo que permite que distribuidoras estrangeiras apliquem, em filmes brasileiros, parte de imposto que deveriam pagar ao remeter o lucro para a matriz, fez com que quase todas se associassem a produtores locais.

Foi a Fox que lançou "Se Eu Fosse Você 2", foi a Sony que coproduziu e distribuiu "Carandiru" e "Dois Filhos de Francisco", foi a Warner que colocou nas salas de cinema os sucessos da Xuxa.

Foi, porém, a brasileira Zazen que produziu e distribuiu "Tropa de Elite 2" e que respondeu por cerca de 44% dos ingressos vendidos pelo cinema nacional até aqui. A segunda no ranking de 2010, a Sony/Disney, aparece com 21,33% de participação.

"Pós-retomada, é a primeira vez que a liderança fica com uma empresa brasileira", diz Manoel Rangel, presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

Em 2002, a brasileira Lumière, que distribuiu "Cidade de Deus" e "Abril Despedaçado", mordeu 52,1% do market share do filme nacional. Mas a empresa trabalhava em parceria com a Miramax internacional.

E, neste ano, levadas em conta as associações, outras distribuidoras brasileiras se deram bem no negócio. A Downtown, por exemplo, partilhou com a Sony o lançamento de "Chico Xavier".

"Esse movimento veio para ficar", aposta Rangel, tomando por base a carteira de lançamentos de 2011, indicativa de que os filmes com potencial de público deixaram de ser monopólio das distribuidoras estrangeiras.

MAIOR QUE O MÉXICO

A ultrapassagem da Zazen se deu num ano forte não só no cinema nacional, mas no mercado como um todo, comprovando, de uma vez por todas, que o filme nacional não tira público do estrangeiro: soma.

A Ancine estima que, até o final do ano, os filmes brasileiros terão vendido de 24 a 25 milhões de ingressos.

O público total deve ficar entre 136 e 138 milhões, batendo o resultado de 2004, quando foram vendidos 117 milhões de ingressos --até então, recorde da década. Em 2009, foram 112,7 milhões de espectadores.

Se foi grande o aumento no número de ingressos, maior ainda foi o aumento na renda. A arrecadação, neste ano, deve ser cerca de 30% maior que a de 2009. Além de refletir o crescimento do público, o índice chama a atenção para a força do 3D que, apesar de mais caro, tem sido um ímã poderoso.

Essa cifra fará, inclusive, com que o mercado brasileiro supere o mexicano em renda e saia da 15ª para a 14ª posição no ranking mundial.

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