segunda-feira, 13 de julho de 2009

Filmes do mês - julho

São atualizados no decorrer do mês.

04D-"Os incompreendidos" de François Truffaut 1959 (3) - 31.07.09
03T-"Uma mãe para meu bebê" de Michael McCullers 2008 (2) - 31.07.09
02T-"Jogo de amor em Las Vegas" de Tom Vaughan 2008 (2) - 16.07.09
01L-"O profissional" de Luc Besson 1994 (3) - 12.07.09

------
*Filmes Revistos Organização: Ordem crescente - em números.

Nome do filme + diretor + ano.
Códigos: A (em aula); C (cinema); D (dvd próprio), L (locadora), P (pirata), T (tv).

Notas:
(0) horrível OU nem me pagando pra ver de novo.
(1) ruim OU no máximo de graça.
(2) razoável OU dá pra ver na Sessão da Tarde ou na Tela Quente.
(3) bom OU pra locar na Videolocadora.
(4) muito bom OU esse vale a pena ver no cinema.
(5) excelente OU marcou a minha vida.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Livro "Cinema e educação" de Roseli Pereira Silva

Cinema e educação

Contribuição do cinema para a educação

Oscar D'Ambrósio*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Reprodução
A psicóloga e psicopedagoga Roseli Pereira Silva, em "Cinema e educação" (Cortez Editora), trata de dois temas absolutamente fundamentais para a educação contemporânea. De um lado, discute a questão dos valores em sala de aula no que diz respeito ao combate de qualquer tipo de preconceito. De outro, verifica como o cinema pode ser usado como recurso pedagógico de maneira pró-ativa.

O universo pesquisado pela autora é um grupo de 22 alunos, entre 14 e 17 anos. Durante quatro encontros, a partir da exibição de filmes, foram tratadas temáticas delicadas, todas elas envolvendo preconceito, seja em relação à mulher, ao negro ou aos homossexuais.

Originalmente uma dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Educação da USP, o trabalho contribui para a compreensão do impacto de filmes sobre os adolescentes. Ela sai da mera esfera da percepção desse fenômeno para uma observação concreta do poder do cinema de gerar discussões e alterar comportamentos entre a população jovem.

Ao se deter especificamente sobre a questão do preconceito, Roseli, por meio de questionários com os alunos, consegue apurar como filmes podem ser o ponto de partida para estimular o combate contra a discriminação, devendo ser mais utilizados como motivadores de todo tipo de projeto educativo que tenha a discussão de valores como um de seus pontos essenciais.

O cinema em sala de aula é ainda visto por uma dimensão pedagógica na qual sua utilização constitui elemento fundamental para romper barreiras entre o cotidiano da escola e a vida fora dela, além de diluir separações metodológicas entre o pensar, o sentir e o aprender.

Nos encontros promovidos por Roseli, o grande objetivo foi sempre a interação com os alunos e a participação deles como indivíduos críticos. No primeiro, foi promovida uma rodada de piadas sobre negros, homossexuais e mulheres. Verificou-se que os integrantes do grupo, mesmo que achassem algumas engraçadas, ao ouvi-las em bloco, foram levados a refletir sobre a carga de preconceito que elas carregavam.

Os filmes selecionados para discussão com o grupo foram Homens de honra (história real de um jovem negro que luta para vencer o preconceito e tornar-se mergulhador de elite da divisão de buscas e resgates da Marinha dos EUA), Filadélfia (sobre jovem e promissor advogado demitido por ser homossexual e portador do vírus HIV) e Shirley Valentine (dona-de-casa americana solitária que, ao viajar para a Grécia para recuperar seus sonhos de juventude, trabalha e se estabelece no Mediterrâneo).

A partir dos comentários dos adolescentes sobre estes filmes foi possível, para a autora, valorizar a importância da escola como espaço de formação e informação dos jovens, além de ser um universo em que a aprendizagem de conteúdos deve caminhar lado ao lado do bom relacionamento entre educador e educandos.

A pesquisadora verifica também que os adolescentes deveriam ser mais estimulados a falar e serem mais ouvidos para que pudessem contribuir para um melhor ambiente educacional. Nesse aspecto, a exibição e a discussão de filmes possibilita aos alunos uma enriquecedora problematização de dilemas morais, conscientização de posturas pessoais, revisão de preconceitos e a defesa de valores ligados aos direitos humanos.
Cinema e educação
Roseli Pereira Silva
Editora Cortez
222 págs.
*Oscar D'Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).

Livro "O clube do filme" de David Gilmour 2009

Sábado, Julho 04, 2009

O Clube do Filme, de David Gilmour

VEJA

A ESCOLA DO CINEMA

O escritor David Gilmour deixou seu filho largar os estudos quando
ele tinha 15 anos. Com uma condição: ver os filmes que o pai
escolhesse. Foi de fato um aprendizado - para ambos


Isabela Boscov

Ed Ou/AP
O "CLUBE" ACABOU, A UNIÃO RESISTE
Gilmour e Jesse, que voltou a estudar e tenta ser cineasta: uma saída desesperada que virou uma porta de entrada

VEJA TAMBÉM

Quando seu filho Jesse tinha 15 anos, o escritor canadense David Gilmour fez o que poucos pais arriscariam fazer: em face da infelicidade do menino com a vida escolar, permitiu que ele deixasse os estudos. Mas impôs uma condição. Toda semana, Jesse deveria assistir a três filmes que seu pai escolhesse.Os Incompreendidos, de François Truffaut, inaugurou a seleção. A juventude do cineasta havia sido árdua: mal-amado pelos pais, ele fora delinquente até encontrar no cinema, primeiro como crítico e depois como diretor, uma vocação. Na última cena de Os Incompreendidos, seu protagonista - e alter ego - foge do reformatório, vaga até uma praia deserta e então olha para a câmera, que congela a imagem. Jesse não chegou a vibrar (Instinto Selvagem, mostrado a seguir, despertou mais entusiasmo), mas gostou o suficiente para o pai cutucá-lo: o que significava aquele desfecho?

Jesse formulou uma interpretação: o personagem estava se dando conta de que se livrar das coisas que lhe desagradavam fora fácil. Agora vinha a parte difícil - encontrar um rumo. Não é simples para um adolescente articular sua perplexidade. Os Incompreendidos, porém, além de ser um grande filme, deu a Jesse uma imagem de sua confusão e uma deixa para desabafar. Episódios como esse são o fio condutor de O Clube do Filme (Intrínseca; tradução de Luciano Trigo; 240 páginas; 24,90 reais), sobre os três anos de cinefilia compartilhados por pai e filho (que, entre 3 e 10 de agosto, visitam o Brasil a convite de sua editora). Há três semanas na lista de mais vendidos de VEJA, o relato evoca não apenas as dores por que passam pais e filhos, mas também aquele fenômeno meio mágico que às vezes se dá numa sala escura, diante de uma tela: uma descoberta e uma comunhão que, exatamente por prescindirem de palavras, ultrapassam o que se pode dizer.

Trocar a instrução formal pelo cinema foi uma proposta surgida do desespero. Gilmour a adotou porque o ódio à escola estava envenenando o filho e porque ver filmes lhe pareceu ser o meio mais seguro de garantir que eles tivessem uma proximidade franca e frutífera. "Mas perdi a conta de quantas vezes acordei de madrugada com o pavor de destruir o futuro do meu filho", disse ele a VEJA. O medo de que nem a alternativa da educação pelo cinema funcionasse inspirou uma série de precauções. Para que as sessões não ganhassem ar de obrigação nem terminassem por fazer de Jesse um esnobe, Gilmour tomou uma decisão brilhante: repudiou qualquer método. Filmes célebres ou obscuros, bons ou ruins, recentes ou antigos, americanos ou de qualquer outra procedência se sucederam no aparelho de DVD conforme o pai, crítico de cinema bissexto, se lembrava deles, ou conforme o humor do adolescente o determinasse. Quando Jesse caiu em tristeza profunda por causa de uma namorada, fez-se um pequeno ciclo de terror: nada como uma emoção forte para ajudar a esquecer outra.

Outra medida lúcida foi a de evitar preleções. O pai dava algumas dicas sobre o que se iria ver e cerrava os dentes para não falar além da conta. Os filmes é que deveriam falar por si mesmos, e então seria a vez de Jesse falar - ou não - sobre eles. De alguns dos títulos, ele tirou lições diretas (veja o quadro); outros o inspiraram de maneiras sutis. Jesse, hoje com 23 anos, retornou de livre vontade aos estudos, já rodou um curta-metragem, no qual também atuou, e prepara o roteiro de um longa. Sua inspiração foi Woody Allen, o cineasta com quem mais se identificou durante o aprendizado e por meio do qual identificou em si o desejo de escrever bem.

A educação heterodoxa de Jesse nesses anos recupera um tipo de convivência que se tornou raro: aquele em que pessoas se reúnem em torno de um interesse. Dos tempos pré-históricos, em que os mitos eram transmitidos de geração para geração à volta da fogueira, até o início do século XX, em que pais e filhos se juntavam para ouvir um deles ler um romance ou acompanhar uma história pelo rádio, essa é uma forma primordial de lazer - além de uma necessidade evolutiva. Nesses momentos, os mais velhos ensinam o que podem aos mais jovens e aprendem algo novo com eles; os laços se estreitam e os horizontes, por sua vez, se expandem. A vida afobada de hoje tende a limitar tais oportunidades. Nesse sentido, O Clube do Filme é um grande lembrete: os filmes, sejam eles bons ou ruins, representam o acúmulo da experiência humana da mesma forma que a literatura, a história ou a filosofia. Com a vantagem de que mesmo os adolescentes mais arredios (ou especialmente estes) adoram assistir a eles. Alguns gostam tanto que se dispõem até a conversar sobre eles. E outros ainda, como Jesse, descobrem nessa saída formulada por um pai que não sabe mais o que fazer exatamente aquilo que lhes faltava: uma porta de entrada.


Fotos divulgação