Já que estão rolando várias listas e senti falta de vários filmes nelas, resolvi fazer a minha própria lista, afinal não existe filme bom ou ruim, existe a nossa opinião sobre eles, citando indiretamente Roland Barthes.
Seguem os 9 filmes que valeram cada segundo do meu tempo em 2014:
"Ela" de Spike Jonze (EUA)
De forma delicada, Jonze nos mostra uma "improvável" história de amor num futuro "realista" (com impecável direção de arte) entre um homem chamado Theodore (Joaquin Phoenix) e um sistema operacional, chamado Samantha (voz de Scarlett Johansson). Um filme sobre o amor, sobre relacionamentos, solidão e sobre a reflexão do ser e o seu contraste com o universo virtual. Rendeu-me um texto aqui.
"O menino e o mundo" de Alê Abreu (BRASIL)
A melhor animação que já assisti. Reúne uma excelente história, repleta de reflexões sobre a infância, pobreza, educação, esperança e desigualdade social. E tudo isso, materializado pelo traço do artista. Os 'rabiscos' humanizam os personagens e aproximam o público do criador, num momento em que as animações atuais parecem nem sofrer intervenção humana de tão "perfeitas" que são. É um filme imperdível, ganhou todos os principais prêmios de animação no mundo, sendo excluído erroneamente pelo mercado hollywoodiano (lógico) e pelo nosso próprio país que preferiu indicar o (apenas) bonitinho "Hoje eu quero voltar sozinho". Também rendeu-me um texto aqui.
"Boyhood" de Richard Linklater (EUA)
Considerando um mercado cinematográfico impaciente, que produz filmes como quem troca de roupa, Boyhood celebra 'inovação' para uma linguagem já desgastada. Com desafiadores 12 anos de produção e mantendo o mesmo elenco, o diretor consegue de forma impecável retratar o amadurecimento e envelhecimento do ator-personagem e sua família comum problemática, em meras cenas do cotidiano. Destaque para os aparatos tecnológicos que são elementos-chave para retratar as transformações pelas quais as gerações passam através do tempo, desde a câmera analógica nos tempos escolares até os smartphones conectados dos tempos atuais.
"Nebraska" de Alexander Payne (EUA)
Um filme que surpreendeu pela simplicidade e me arrancou boas risadas ao retratar a relação entre pai e filho, e as consequências do envelhecimento e sua respectiva teimosia. Vale a pena!
"A grande beleza" de Paolo Sorrentino (ITÁLIA)
Uma divertida reflexão sobre o universo da arte e a delicadeza da vida, na perspectiva do escritor frustrado Jap Gambardella (Toni Servillo) . A sequência inicial surpreende e o filme revela uma Itália boêmia que pouco conhecemos, enquanto turistas!
"Azul é a cor mais quente" de Abdellatif Kechiche (FRANÇA)
Um filme ousado sobre a descoberta da sexualidade e do amor pela jovem Adèle (Adèle Exarchopoulos), inspirado numa famosa HQ. Um romance lésbico escancarado visualmente (quase pornô) que consegue prender o espectador até o fim, na torcida pela reconciliação e redenção das personagens. Um realismo premiado!
"O Mercado de notícias" de Jorge Furtado (BRASIL)
O inovador Furtado não desperdiça seu tempo no cinema. Apesar de didático, cada produção é carregada de reflexão, como um convite ao espectador. Essa produção pouco comentada, reinventa a linguagem documental, mesclando encenação, peça teatral, entrevistas, para falar sobre a perversa mídia e sua relação com a democracia.
"Uma viagem extraordinária" de Jean Pierre Jeunet (EUA/FRANÇA)
Jeunet é meu cineasta favorito, porque ele acredita que o cinema representa o mundo dos sonhos e da imaginação, como também acreditava Méliès e o surrealista Luis Buñuel. Sempre com toque lúdico e uma impecável direção de arte, seus filmes narram histórias banais das maneiras mais fantásticas possíveis. Com leveza, ele traz questões sobre a indústria bélica (em Micmacs), a morte da infância (em Ladrão de sonhos) e sobre identidade (em Amèlie Poulain). Já no seu primeiro filme em língua inglesa, Jeunet problematiza o universo da pesquisa científica, através do pequeno T.S. Spivet (Kyle Catlett) que precisa provar sua improvável genialidade. "A mediocridade é o fungo da mente" proferida pela mãe (Helena Bonham Carter) foi uma das frases mais simples e marcantes que já vi em filme.
"Blue Jasmine" de Woody Allen (EUA)
Se existe um diretor que sabe construir personagens sólidos com diálogos ricos, esse cara é Woody Allen. Seu estilo é um adjetivo para definir que tipo de filme assistir, afinal é preciso estar com paciência e disposição para lidar com seus consistentes e problemáticos personagens. E apesar de nem todos os seus filmes me agradarem, a premiada e protagonista Cate Blanchett consegue dar vida a uma mulher rica e frustrada que perde tudo quando seu marido é preso e se vê obrigada a morar com a irmã "suburbana". Seria cômica, se não fosse uma dramática situação. Pra ela, claro!