
Se gostar dos filmes de Jennifer Lopez for uma fraqueza, eu tenho e assumo com orgulho. Apesar de não ter a melhor das atuações, e excluindo os romances onde encarna papéis esteriotipados de latino-americana, gosto de alguns trabalhos que ela se envolve como "Nunca mais". Fraco, porém denuncia a violência doméstica e encoraja as mulheres a pararem de fugir. E o atual "Cidade do silêncio" que baseia-se em histórias reais de mulheres que são estupradas e mortas na cidade de Juarez - México, dentro do universo da globalização (NAFTA), onde empresas de eletroeletrônicos pensam apenas no lucro e não se preocupam com a segurança das funcionárias, pois é mais barato abafar os casos do que protegê-las.
É um filme bem feito (cores, têxturas, enquadramentos), com falhas no enredo, mas que trata de um assunto muito mais importante do que o cinema: a violência real que assola o país.
É um assunto delicado, triste e polêmico, ainda mais comparado com a atual realidade do nosso país, Brasil. Recentemente no Pará foi feita a denúncia de uma adolescente que ficou presa por quase 30 dias numa cela com mais de 20 homens, sendo submetida a todo tipo de violência, principalmente sexual. Depois de uma repercussão nacional e internacional, novos casos estão sendo descobertos em mais de 5 estados. E quem são os culpados? Negligência do estado? Da Justiça? Exploração sexual?
Ou seja, 2007, e ainda é possível nos surpreendermos com casos chocantes e brutais contra jovens, mulheres, crianças e pessoas esquecidas e marginalizadas, em lugares onde a lei não predomina. "Pará, terra sem lei"?!.
"Cidade do silêncio" não possui um final feliz e nem prevê um. É uma triste realidade, de um mundo globalizado, que explora mão-de-obra barata e visa apenas o lucro. E tenho certeza que essa realidade se expande por todo o mundo, principalmente nos países de terceiro-mundo, onde prevalece a violência, injustiça e desigualdade social, incluindo o nosso Brasil.
Li algumas críticas que se concentraram apenas em falar da atuação fraca de Jennifer Lopez, das falhas no enredo e dos pobres trabalhos de Gregory Nava. Mas acredito que tudo isso é o de menos, afinal o filme dá uma boa cutucada nos EUA, e obviamente não chegou aos cinemas, pois é sempre um risco denunciar o país que domina o mercado internacional.
Achei considerável a tentativa de Nava contar uma realidade, através de algumas escolhas "hollywoodianas", colocando atores latino-americanos famosos (Jennifer Lopez e Antonio banderas, além de Martim Sheen) e técnicas cinematográficas mais sofisticadas, porém, sabemos que para falar alguma coisa precisamos de voz, e nesse ambiente de desigualdade, acaba-se optando por escolhas questionáveis, que possam tentar promover essa "voz".
Além de atuar, Jennifer Lopez foi a produtora do filme. Mesmo polêmica (e linda) está claro que não esqueceu totalmente de suas origens. (nem como pessoa e nem como a personagem do filme).
Enfim, posso ser tola e boba de curtir esses filmes quase sempre não vistos, mas acredito nesse cinema que tenta comover e contar histórias, quase sempre abafadas.