quarta-feira, 31 de julho de 2013

"O substituto" de Tony Kaye 2012


 
Henry Barthes (Adrian Brody)  é um (eterno) professor substituto de escolas públicas (EUA) que (aparentemente) prefere não se apegar aos alunos (nem a ninguém). Algo ruim que aconteceu no passado contribuiu para que ele tivesse a empatia necessária para se relacionar com seus alunos "problemáticos", ao mesmo tempo que o tornou alguém solitário e desanimado com a vida.
 
Oriundo de um lar "desestruturado", apresentado de forma fragmentada por um avô doente e uma mãe viciada e suicida, Barthes (sobrenome curioso, não?!) parece compreender cada jovem alma perturbada e com poucas palavras é capaz de confortar e conquistar o outro. É um 'pai', um psicólogo, um amigo, um 'substituto' de tudo isso, como todo "bom" professor acaba sendo na vida de algumas crianças e jovens. É também responsável pela formação de cada pequeno ser "incompleto" que cruza o seu caminho, e isso é um enorme fardo, quando seus atos contribuem para finais infelizes. Afinal, nem sempre dizer que tudo 'vai ficar bem' é a solução para os mais profundos dramas de uma alma perturbada. E Barthes desabafa "mas ia ficar tudo bem", quando uma de suas alunas, vítimas de bullyng na escola e em casa, comete suicídio.
 
Na sequência final do filme, Barthes pergunta quem já sentiu um peso grande, como se a vida estivesse nos sufocando. Todos os adolescentes da sala de aula levantam a mão e ele também. Então ele diz que Edgar Allan Poe também sentia isso há 100 anos e escreveu um conto chamado "A queda da casa de Usher". Ele diz que o conto não era sobre a casa, mas sobre um estado de espírito.

Esta relação que ele estabelece da obra de um conhecido autor com a vida cotidiana dos alunos, a partir das próprias experiências, é uma estratégia fundamental na prática em sala de aula. É ultrapassar as barreiras do conteúdo curricular e fazer pensar sobre a própria vida.


Este filme não é sobre um professor substituto, mas sobre o estado de espírito (atual?) de todos os professores e profissionais envolvidos com a Educação das novas gerações. É um misto de desânimo e esperança.
 
Em determinado trecho, ele desabafa com seus alunos (temporários) que ir para escola e aprender sobre as coisas é a única chance que temos de não nos tornarmos reféns de quem domina o processo da comunicação. É ser capaz de avaliar o que consumimos, criticar e recusar aquilo que não concordamos. Estaria aí talvez uma reflexão da grande importância da Educação, de tornar os indivíduos emancipados, ou segundo Hannah Arendt, capazes de viver sem depender dos cuidados de outrem. Agir e pensar por 'si próprios', ou pelo menos ter acesso a ferramentas e oportunidades que possibilitem esse pensar e agir.
 
Diariamente vemos jovens desperdiçarem o tempo vivido e passado na escola, por considerarem inútil ou desinteressante. E somente quando tiverem maturidade para avaliar, é que verão que desperdiçaram esse tempo lamentando ao invés de torná-lo mais produtivo. Ao mesmo tempo isso reflete que, nós professores e educadores, estamos falhando em nossa função, quando diante de inúmeras abordagens, percebemos que nenhuma delas funciona. Tentar outra ou desistir?!!

É preciso reinventar a escola ou ela irá implodir! (se já não implodiu).
 
Lembro na minha primeira semana de aula, empolgada com o novo desafio de lecionar, de ouvir outra professora dizer "Aproveita, que essa paixão vai passar!". Eu não compreendia como aquele sentimento poderia passar e  compreendia ainda menos, porque alguém que perdeu essa paixão, continuaria no ofício de professora.
 
Já faz 6 anos que ouvi essa frase e ainda não perdi a paixão, mas confesso que estou no caminho. Já vivo o misto inconstante de desanimar e ter esperança ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, você entende que a experiência de professora não vai te ajudar a solucionar os problemas, porque a cada ano, em cada turma, em cada dia, um novo desafio irá se apresentar e você terá que aprender a lidar com ele. A pergunta que sempre me faço é: eu quero isso pra mim? Enquanto eu for professora, a resposta será sim.
 
O que é ser um bom professor? É ter empatia e ser capaz de ouvir os alunos, quando seus pais poderiam e deveriam cumprir esse papel? Henry Barthes diz que deveria haver um teste 'vocacional' para saber quem poderia ter filho. Deveria haver uma seleção, pois nem todos estão preparados para esta 'vocação'. Colocar um filho no mundo é assumir uma responsabilidade eterna e diária, mas parece que muitas pessoas não cumprem esse papel. E isso se reflete em escolas vazias nas reuniões de pais, que deveriam fazer parte de sua rotina. Discutir sobre a educação dos filhos, num espaço que frequentam em boa parte da vida. Mas não há tempo. Não é uma prioridade. "Que a escola resolva o que 'eu' não posso resolver!"

Esta cada vez mais difícil lidar com as dificuldades de ser professor. De entrar numa sala de aula todos os dias e não desanimar com o descaso dos jovens, dos pais, dos governos com este profissional que precisa sozinho "conquistar", ou na pior das hipóteses, "dominar" uma turma de 20, 30, 40, ou 100 alunos.
 
Mas em Barthes, como em todo professor, também há esperança. Quando ele acolhe uma jovem prostituta, oferecendo a chance de mudar sua trajetória, ele oferece perspectiva. E muitos alunos, com muita raiva de si e do mundo, só precisam dessa chance, dessa oportunidade que pode mudar suas vidas para sempre.
 
Quando me dou conta que tenho essa oportunidade nas mãos, de realmente ajudar alguém, percebo que não há valor que compense essa missão. Que isso preenche minha vida de motivos para continuar sendo professora. É um sentimento paradoxal, querer e não querer, ser e não ser. Talvez fazer bem para o outro é também fazer mal a si mesmo. Terei a coragem necessária?!
 
Manter-se passageiro enquanto professor, ou substituto, talvez seja a melhor oportunidade para manter-se apaixonado. Para não desanimar e continuar tentando, mesmo quando tudo parece desabar neste ofício. Manter-se fresco e novo na experiência de lecionar. Conhecendo novos alunos e novos colegas. Conhecendo novas escolas ou escolas que se reinventam a cada dia, para cada aluno e professor.
 
Talvez para Barthes, ser um bom professor é viver o desapego. É estar ali somente o necessário para oferecer perspectivas e depois recomeçar num novo lugar. Não se acomodar ou deixar que a paixão se desgaste, porque se ninguém mais quiser cumprir esse papel, o que será de todos nós?!! 

2 comentários:

Anônimo disse...

OLá. Sou Aline Calamara. Jornalista. Trabalho como assessora de imprensa para cultura. Sou responsável pela divulgação de alguns filmes no Brasil. Nacionais ou estrangeiros. Gostaria de entrar em contato com você. Meu e-mail é alinecalamara@rpmcom.com.br

ally_c disse...

Olá, Aline! Eu escrevi há semanas pra você, mas não tive retorno. Se quiser: ally.collaco@gmail.com =)