segunda-feira, 5 de março de 2012

"O artista" de Michel Hazanavicius 2011


Em tempos de cinema 3D de alta definição e super produções hollywoodianas, o nostálgico Michel Hazanavicius resolveu negar todas as inovações tecnológicas para homenagear 'literalmente' "O primeiro cinema", fazendo um filme 'mudo', preto&branco e 2D.

"O artista" é protagonizado pelo premiado ator francês Jean Dujardin como o personagem George Valentin, grande estrela (fictícia) do cinema mudo, que entra em crise 'existencial' na transição do cinema mudo para o sonoro. Transição já muito bem ilustrada no bem-humorado musical "Cantando na chuva" de Stanley Donen (1952). 

Diferente de Donen, Hazanavicius preferiu mostrar os conflitos psicológicos que grandes estrelas (de fato) vivenciaram nesta época da História do Cinema (como o genial Chaplin e seu personagem Carlitos), do auge ao declínio da carreira, incorporando inclusive os limitados planos fixos e diagonais em cenas dramáticas ou momentos de tensão; trilha sonora instrumental e filtros de câmera que acompanham o teor das cenas e humores dos personagens (tons esverdeados, azulados, avermelhados, ainda que o filme seja em preto&branco), recusando totalmente a forma de fazer cinema atual.

Homenagem?! Nostalgia?! Apego?! Inovação?!

Minha mãe me perguntou se este filme não será o primeiro de muitos com esta velha/nova 'estética', e eu respondi que não! "O artista" é um filme específico e especial, dentro de um contexto, onde a verdadeira revolução se apresenta na introdução do cinema 3D em alta definição. Negar a cor, o som e a tridimensionalidade (ainda 'recente') é apenas uma escolha estética e inovação/renovação passageira, que continuará aparecendo aleatoriamente como expressão artística, mas jamais como estética condutora de um 'novo' cinema, afinal o cinema não evoluiu à toa!! 

Foi delicioso acompanhar a trama clichê e toda dor e sofrimento de George Valentin e toda tensão sexual, disfarçada pelo romance sutil e troca de olhares, com a ousada e doce Peppy Miller (Bérénice Bejo), típico de um cinema de 'poucas palavras', universal e super romântico, no melhor estilo hollywoodiano "E o vento levou", "Casablanca" e outros do tipo.


Hazanavicius fez um filme redondinho (início, meio e fim "Happy End"), emocionante e nostálgico. Chorei e ri com os personagens, sem me incomodar com o silêncio das falas, acompanhadas de uma belíssima trilha sonora (quase um personagem paralelo) e precisos silêncios. Parecia que eu havia me transportado no tempo, espectadora de uma outra era do cinema, que mereceu esta homenagem, mas que jamais poderia negar tudo feito até então. Digo parecia, porque em outras épocas, o acompanhamento musical seria presencial e não digital! =)
 
Nós cinéfilos adoramos os clássicos, mas também adoramos o futuro do cinema em sua originalidade, criatividade e complexidade. Negar sua trajetória foi uma singela e localizada homenagem de Hazanavicius, reconhecida por Hollywood (cenário do filme) com o Oscar de Melhor filme e diretor (além de outras categorias), mas duvido que este feito seja repetido com freqüência, afinal para o público leigo, amante do cinema 'atual' e 'espetacular', "O artista" seria chato e monótono diante de filmes de ação explosivas, tomadas complexas em 3D, mil peripécias dos personagens e inovações tecnológicas.

É preciso certa sensibilidade e delicadeza para se dispor a ver um filme que nega toda inovação já realizada por grandes diretores, não só em som e cor, mas em movimentação de câmera, fotografia, profundidade de campo, roteiro, trilha sonora, atuação, etc.


Sou grata a Hazanavicius (O artista) e Scorsese (Hugo) por me presentearem com 2 filmes brilhantes que serão incorporados as minhas aulas de cinema e ilustram muito bem esta linda e simples fase do primeiro cinema

De um lado, um filme que explora tudo que o cinema já reuniu em estética e tecnologia (Hugo), de outro, um filme que nega tudo isso (O artista). Para quem se importa com o Oscar e gostaria de entender porque aquele que nega foi premiado?! Porque assim como Avatar, Hugo não precisará de prêmios para ser reconhecido como um grande filme e ser inesquecível entre todo tipo de público (cinéfilos e leigos), já "O artista", como o simples "Guerra ao Terror", merecia uma pequena chance de se mostrar e receber o valor que merece, ainda que muita gente torça o nariz e desconsidere o que ele traz de interessante!!

2 comentários:

Paula disse...

Grande Ally!!
Tô com 'O artista' aqui, ainda por assistir... vou guardar um pedacinho especial do final de semana. ^^
Bjos!!

ally_c disse...

Depois me conta oq achou! hihihi =) Kisses! =*