sábado, 10 de março de 2012

"O menino do pijama listrado" de Mark Herman 2008


Qual seria a perspectiva de uma criança diante do Holocausto (extermínio dos judeus na 2ª Guerra Mundial), assunto já tão citado, recontado e 'esgotado' em textos e filmes?! Esta foi a premissa do escritor John Boyne para escrever o livro que inspirou este filme de Mark Herman!!

Diferente do premiado "A vida é bela" de Roberto Benigni (1999) que também retrata a ingenuidade de um menino judeu e as peripécias do pai para conservar sua inocência, o ponto de vista recai sobre o 'outro' lado da história, talvez humanizando um pouco os 'cúmplices' inocentes do horror do Holocausto, as crianças.

Baseado em depoimentos e experiências reais (livro e filme), "O menino do pijama listrado" conta a história do pequeno e ingênuo Bruno (Asa Butterfield de Hugo), de 8 anos, filho de um oficial do partido nazista, que se muda com a família para uma área isolada, confundindo um campo de concentração (e extermínio) com uma estranha 'fazenda' a ser explorada.

É nesta aventura infantil, de explorar lugares novos e driblar o tédio que Bruno conhece  Shmuel (Jack Scanlon), um garoto judeu da mesma idade, que também não entende o horror que vivencia, apenas por ser judeu.

É delicado pensar a infância diante do Holocausto. Falsas verdades  e ideologias impregnadas geração após geração, onde crianças e jovens mal compreendiam o horror que vivenciavam e compactuavam, enquanto vítimas ou admiradoras de Hitler e do partido nazista. 

A complexidade dessa relação infânciaxHolocausto, projeção da relação infância e mundo adulto, pode ser exemplificada em diversos momentos do filme: nas distorções ingênuas de Bruno diante da realidade cruel (fazenda, pijamas; médico que descasca batatas;. fumaça fedida, etc); na presença de um professor que perpetua a ideologia nazista; na mudança de comportamento da filha adolescente (bonecas dão lugar aos cartazes do partido nazista); na orientação equivocada e afetuosa da irmã ao explicar quem são os 'inimigos' judeus; na cegueira generalizada dos adultos e a incompreensão da criança diante dos acontecimentos. 

Para Bruno, como lidar com a relação de amor e ódio diante de um pai soldado? Orgulho ou vergonha? Como condenar seu próprio pai ou seu melhor amigo judeu? Bruno ama e quer os dois, mas não compreende a impossibilidade das relações.

Interessante analisar a seqüência do filme 'documentário' (recriado pela produção, inspirado num vídeo real)  utilizado para convencer as pessoas com falsas verdades sobre os campos de concentração. Bruno fica convencido de que seu pai não é cruel e seu amigo vive num lugar bom, mas porque 'a fazenda' é tão diferente do vídeo, é o que Bruno irá descobrir!!

Compreensível e deplorável pensar que o cinema foi usado para distorcer os fatos e perpetuar preconceitos! E se engana aquele que pensa que é coisa do passado! A 'lavagem cerebral' permanece a cada tomada de um filme ou programa de televisão, em cada ideologia implícita e/ou explícita, seja para perpetuar o consumismo, o capitalismo, preconceitos e discriminações de cor, gênero e sexualidade! 

É preciso não se alienar e julgar qualquer coisa diante de nós!! É preciso ter opinião 'própria', senso crítico e ser reflexivo!! É preciso avaliar, analisar, pensar sobre!

"Never Again" é o slogan pós-guerra utilizado para justificar memoriais, museus, livros, filmes e relatos de experiências, para que ninguém jamais esqueça o que aconteceu no passado: a negação total da humanidade com 'crueldade máxima'!!

Eu não li o livro, mas já conhecia a história (e o final) antes de assistir o filme e talvez por isso não tenha ficado profundamente comovida. Sem dúvida, fiquei emocionada, triste e tocada, mas o 'outro' lado da história não soa tão cruel e injusto, quando acontece por um grave mal entendido, resultado daqueles que resolvem enganar e iludir uma criança com omissões ou falsas verdades.

Ou talvez eu esteja esgotada de rever mais uma versão dessa triste história da humanidade, esgotamento reforçando por uma experiência dolorosa ao visitar um Campo de Concentração em Weimar na Alemanha no ano passado.

Mas como dizem Mark Herman (diretor) e John Boyne (escritor), é preciso lembrar cada nova geração do que aconteceu e fazer a pergunta "Que mundo vocês querem para si?! De Brunos e Shmuels? Ou entre iguais?!" Que esse horror jamais se repita, espero eu!!!

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