sábado, 7 de janeiro de 2012

"A vida em preto e branco" de Gary Ross 1998


A sinopse é simples: 2 irmãos com personalidades completamente diferentes em plena década de 90, onde a televisão já é colorida e os costumes não são mais aqueles tradicionais dos nossos antepassados, disputam o controle remoto da televisão e acabam indo parar 'dentro da TV', depois da visita inesperada de um estranho senhor. 

Jennifer (Reese Whisterpoon) tinha um encontro com um garoto popular da escola e é completamente desinibida e sensual, já David (Tobey Maguire) é solitário, nerd, 'impopular' e queria passar a noite vendo a maratona de episódios de sua série favorita Pleasantville.

O título original deste filme é 'Pleasantville' pois é justamente o nome do lugar onde se passa a série de televisão que leva o mesmo nome, realizada quando a TV ainda era preto&branco e numa década (50/60) onde a discussão da sexualidade era ausente nas narrativas televisivas e costumes da época.

Em Pleasantville as camas dos casais são separadas, ninguém aparece indo ao banheiro e nem faz sexo, os bombeiros apenas salvam gatos, os livros estão em branco, os jovens se encontram para tomar sorvete ou dar a mão na 'Alameda dos namorados' e as esposas toda noite preparam o jantar da família. Além disso, para aquelas pessoas nada existe além de Pleasantville!

Os protagonistas da série são 4 pessoas que integram uma família tradicional, onde o homem trabalha, a mulher cuida da casa, comida e filhos, e cada filho é educado e exemplar nos estudos e em tudo que fazem. A série idealiza uma sociedade perfeita, sem violência, sexo, conflitos, questionamentos e problemas. Porém, muitos problemas são causados pelas coisas boas da vida! Será que é realmente bom não ter problemas?!

David e Jennifer aparecem no lugar dos filhos da família Parker, protagonista da série, e enquanto David tenta descobrir um modo de sair daquele mundo surreal, Jennifer não consegue conter sua personalidade e sexualidade ao conhecer o garoto da escola que é apaixonado pela sua personagem. 

Quando Jen se liberta no mundo limitado de Pleasantville, fazendo sexo e ensinando a mãe como dar prazer a si mesma, a árvore do quintal fica em chamas e os bombeiros precisam da ajuda de David para apagá-lo. David acaba se tornando popular e ao contar as histórias dos livros, suas páginas começam a se encher de texto.

As atitudes de Jennifer e David fazem com que a tradicional Pleasantville comece a ganhar novas cores. O mundo preto e branco de Pleasantville começa a ficar gradativamente colorido, surpreendendo e assustando os moradores e todos aqueles acostumados a um modo de vida, sem questioná-lo ou superá-lo. A cidade fica meio colorida e meio cinza, e os moradores tradicionais começam a querer combater aquilo que é diferente. "Pessoas coloridas não entram!", "Tintas que não sejam preta, branca e cinza são proibidas!", "A alameda dos namorados está fechada!" E é no julgamento principal que David explica que o colorido está na descoberta dos prazeres da vida, nos sentidos, no carnal, no instinto...Sexo, amor, raiva, desejo, inveja, ciúme, saudade...todos estes sentimentos são os que dão a cor as nossas vidas, e trazem conseqüências boas e ruins, mas reais!!

Talvez David gostasse de Pleasantville como forma de fugir de si mesmo e da sua realidade, sendo um garoto tímido e inseguro. Quando ele beija pela primeira vez não fica colorido como alguns moradores da cidade, mas quando defende sua mãe e deixa extravasar seus sentimentos verdadeiros de raiva e injustiça, ganha nova cor. Jennifer só muda de cor quando descobre o prazer da leitura, algo que ignorava em seu mundo real, onde o sexo era banal. 

Para quem conhece os prazeres da vida, com suas maravilhas e problemas, sabe que não poderia ser feliz se ela fosse em preto e branco, sempre do mesmo jeito, sem nunca superá-la. A instabilidade e multiplicidade das cores é que nos motiva e alegra! Até o fogo, que antes não existia em Pleasantville, surge ao sinal de um orgasmo! "Sexo é vida, é fogo, é instável, é paixão, é pecado, é desejo, é amor..."

Em certo momento do filme, a nudez e o sexo são ridicularizados pelos 'preto e branco', a música, os namoros, a cor e a arte são reprimidos, e o machismo se mostra quando a mãe Betty decide que não quer mais apenas servir o marido, depois de ganhar nova motivação em sua vida. A discussão do divórcio se apresenta e aí nos perguntamos das desvantagens desse mundo colorido. Seriam mesmo desvantagens ou necessidades?!

Apesar de ter sido feito na década de 90, o filme não apresenta um final feliz, mas uma reflexão do que integra a nossa vida. De um lado um mundo sem problemas, mas sem estímulo dos sentidos e sentimentos humanos, do outro, um mundo real e colorido, com suas dores e maravilhas. É possível escolher? É possível idealizar? Há a possibilidade de mundo perfeito?!

Não sabemos e nem saberemos! Que bom!

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