sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro" de José Padilha 2010

Impotência. A grande sensação do filme é esta.
Diferente do primeiro, marcado por jargões e violência extrema, José Padilha nos apresenta um outro esquema corrupto de milícia, de certa forma previsível, mas nunca tão claro.
Baseado em depoimentos reais de policiais e políticos perseguidos, Tropa de Elite 2 é ainda mais apavorante que "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles, quando põe no chinelo Zé Pequeno e sua tropa de esfarrapados, para dar lugar aos agentes bem treinados, armados e camuflados pela política e corrupção.
Pior que uma comunidade liderada por ignorantes sem perspectiva, seria uma comunidade controlada por intelectuais ou operadores da lei. Se não da polícia, do Estado. Representantes do povo, do país, associados num esquema sólido de corrupção, ligado ao narcotráfico e formação de eleitorado.
E assim como as "bocas" que conhecemos em Meirelles, substituídas constantemente, afinal há sempre interessados em caminhos fáceis, estes "esquemas" também estão sempre bem sustentados e financiados pelos mais interessados, os políticos.
Em época de eleição, é inevitável desconfiar de tudo e de todos.
E ao invés de nos interessarmos ainda mais pelo assunto, muitos de nós preferem se calar, somente reclamar e com muito custo, votar.
No desânimo por justiça, impaciência de espera e tolerância com o desonesto, muitos de nós preferem nem agir ou intervir. Trancam-se nos silêncios mesquinhos e levianos, perdem-se nas novelas banais e risos tolos, afastam-se do problemático e necessário, torcendo por homens e bolas, vilões e heróis, romances impossíveis e almoços alcoólicos.
Muitos de nós, preferem manter-se anestesiados pela fantasia e fingir que desonestidade é coisa de gente distante. Muitos furam filas, burlam as leis, acumulam assistências, mentem, enganam, colam, roubam, acusam e quando acusados de sustentar o sistema, indignam-se.
Enquanto houver esforço pelo analfabetismo político, continuaremos sendo representados por nós mesmos (ou por muitos de nós), perversos, cínicos, desonestos, falsos, desinteressados pelo coletivo, anestesiados pelo prazer e distantes do pensar.

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