segunda-feira, 12 de julho de 2010

"Eclipse" de David Slade 2010


Para os amantes da saga Crepúsculo, "Eclipse" preserva a sensação de expectativa, dúvida e tensão sexual, presentes no terceiro livro de Stephanie Meyer.
Direcionado para adolescentes, encanta e atrai cada vez mais devotos, (ou melhor dizendo, devotas) ainda que tardiamente, inspirando seriados, tendências de moda e gerações precoces.
Segundo David Gilmour em seu livro "Clube do filme", assumo que a saga inteira, tanto dos livros e filmes, faz parte da minha lista gigantesca de "prazeres culpados" favoritos. E olha que adooooro um "prazer culpado".
Assumo até que sinto borboletas no estômago quando Edward ou Jacob aparecem na tela e assumo ainda, que me rendo aos suspiros da sala lotada de cinema, (com maioria esmagadora de público do sexo feminino) em pleno sábado ensolarado de inverno.
Programa luluzinha: assistir a deliciosa vitória da alemanha sobre a argentina no Quiosque da Brahma, regado ao chopp geladíssimo e com sorriso no rosto, (refri e chocolate devidamente comprados), ir rumo à primeira sessão de cinema da tarde.
Confesso que não fiquei na fila da pré-estreia, mas como podem ver, não esperei muito tempo para saborear o terceiro filme da saga. E minhas amigas (também acima dos 20) estavam tão ansiosas quanto eu.
É sempre um desafio adaptar uma obra literária para o cinema, qualquer que seja.
Se no livro, a fantasia e imaginação são ditadas pelo leitor, no filme, tudo é entregue de bandeja e só resta aos fãs confirmar ou reprovar suas expectativas frustradas. Com muita sorte, algum detalhe supera a imaginação (com muita sorte).
Porém, o que mais me marcou no livro foi justamente a sensação de incerteza da personagem Bella ao ter que escolher entre o amor de Jacob e de Edward.
Para alguns parece óbvio, a oferta simples de viver dois romances com trajetórias tão diferentes, mas durante o livro, a sensação como leitora é a mesma de Bella. A incerteza entre escolher o que parece o mais certo (o quente, acolhedor e mortal) e aquilo que realmente se quer e nos completa, ainda que seja o caminho mais inconseqüente e tentador, típico da juventude.
Não lembro de no livro, essa metáfora ter sido tão bem esclarecida, como me pareceu no diálogo final do filme entre ela e Edward na clareira favorita, algo do tipo, "...nunca me senti na incerteza de ter que escolher entre você e Jacob, mas sim entre o que eu deveria ser e o que realmente sou. Sempre me senti deslocada e agora encontrei meu lugar." Ou seja, a menina quer realmente ser uma vampirinha.
E pra mim, o desejo de Bella tornar-se vampira, é muito mais que gostar de sangue e tornar-se imortal. Com tantas adolescentes e mulheres encantadas por um côrtes e ultrapassado Edward, num mundo onde a violência e sexo são completamente banalizados pelas gerações "Malhação ID", tornar-se vampira é eternizar-se.
É deixar de se sentir deslocada. É encontrar-se. Sentir-se completa.
É preservar a juventude (grande temor das mulheres) e ficar ao lado do grande amor, que não tem defeitos, que não envelhece (nem peida, arrota ou é grosseiro depois do casamento).
É preservar o romantismo e viver uma história de amor verdadeira.
Para muitos, é um romance superficial, ridículo e desnecessário, (principalmente para as mentes e corações mais insensíveis) mas para sonhadoras e românticas como eu, é o resgate de algo que tem se tornado raro nos relacionamentos reais.
"Eclipse" nos apresenta essa essência: do homem irreal, idealizado, simbolizado pelo caloroso e engraçado Jacob ou melancólico e romântico Edward.
Nunca um tradicional pedido de casamento (defendido bravamente por uma mormon Sthephanie) provocou tanto suspiro no cinema. Bella, desajeitada e contemporânea, rendeu-se aos caprichos de Edward, como o próprio público (principalmente feminino), que há tanto superou o significado de flertar, cortejar e esperar. É o reflexo de um desejo adormecido, esquecido, mas desesperadamente buscado no romance adolescente.
No primeiro filme, Crepúsculo, considerado tolo aos olhos dos curiosos e desinteressados, os únicos dois beijos que acontecem, são furiosamente desejados pelas leitoras/espectadoras.
Vivemos numa overdose de relações carnais, e no entanto, um beijo tão singelo, com uma leve tensão sexual, nos borboleta violentamente no estômago. Só sendo mulher pra entender!
(acho que só nós conhecemos aquela sensação do coração ir na boca de quando o celular toca no tão esperado dia seguinte, de quando o msn pisca ou um scrap novo é escrito, ou ainda quando ouvimos o som da mensagem do celular antes de dormirmos).
Só nós parecemos entender que a fantasia vale muito mais que o ato concreto, muitas vezes frustrado por um beijo ruim, uma noite caótica ou uma experiência para ser deletada da memória.
Voltando a sala de cinema, ouve-se "bichona" quando Edward recusa Bella sexualmente. E como mulheres, também nos irritamos, ora bolas, mas são reações típicas de uma geração masculina que quase não respeita a sutileza do toque e cortejo e de uma geração feminina que deixou de se valorizar como mulher. Reforço: overdose de relações carnais.
E ao mesmo tempo que nos irritamos, ficamos na expectativa ainda maior, do que está por vir, no doce (e culpado) prazer de fantasiar.

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