(Salve o cinema de Mohsen Makhmalfab 1995)
de Alessandra Collaço da Silva
Imbecil. Eu pensei. Mas porquê? Imbecil. Não vi inteiro, mas trecho imbecil. Diretor imbecil, idéia imbecil, pessoas imbecis. Risos irritantes e imbecis. Mas porquê? Não sei dizer.
Não é um reality show. Não é, mas parece.
Eles não sabem. Aquelas pessoas iguais e desesperadas não sabem de nada. O diretor sabe. E elas só querem uma chance. De atuar? De ter 15 minutos de fama? De serem alguém?
Não. Nem sabem, mas querem uma chance de perpetuar. Não serem esquecidas. Não morrerem em morte. Porque só morre mesmo aquele que não vive na lembrança. Estar no vídeo é congelar o tempo. É de alguma forma congelar na imagem e quem sabe, sobreviver à própria morte. Todos ou muitos desejam isso. O pavor verdadeiro é ser esquecido, quase como nunca ter existido e “ser imagem” é perpetuar.
Para alguém, quem quer que seja, a imagem vive, às vezes para sempre. O diretor sabe disso e explora. Viola meus valores éticos que eu nem sabia que tinha. Mas tenho. Descobri.
Imbecil. Continuo achando. Mas de certa forma, importante ocorrer. Porque me irrita. Eu nego esse cinema, que é cinema, mas não o cinema que acredito e amo.
Aqueles rostos constrangidos, testados e induzidos a aceitar a humilhação. Ouço risos, frenéticos, intensos e eles me irritam. Não há graça, a menor que seja.
Eles não se importam de serem humilhados. Mas o diretor sabe. E isso me irrita profundamente. Tenho raiva das “vítimas”, como em qualquer reality show. Fodam-se. Quem mandou aceitar? Dar a cara a tapa? Se expor tão profundamente. Pro reality show eu não ligo, mas pro filme sim. Porque eu vejo seu idealizador. Ele se mostra, ele tem nome, ele é imagem. Tantas coisas e tenho que ver isso?
Não há tempo em vida que me permita ver todo cinema feito. Preciso escolher. O tempo corre. Porque desperdiçar com trechos tão desprezíveis? Eu sei. É importante. Por algum motivo é. Não sei qual. Mesmo assim me irrita.
Talvez a cultura. Todos aqueles panos e caras iguais. Todos tão sofridos e querendo ser diferente. Todos tão desesperados. Tenho pena, raiva, agonia, vergonha alheia. Não costumo ter, mas tenho. Tive.
Não quero ver. Não quero ver a verdade do mundo. Isso existe. É real. Isso é poder. Isso me enoja. Que ela exista longe de mim. Porque eu escolho não mostrá-la. Não quero. Quero mostrar verdades boas. Melhores. E talvez mentiras desejadas. Aquelas que podiam ser, mas por algum motivo não são. Por algum motivo...
Não desisto. Sou de fé e esperança. Acredito no melhor do ser humano. É o que vale a pena mostrar. Acreditar nos sonhos. Acreditar na magia do cinema.
Magia do cinema. É essa verdade-mentira que quero ver e contar.
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