quarta-feira, 16 de maio de 2012

"Dois Coelhos" de Afonso Poyart 2012


Como fazer um filme de ação e romance, sobre corrupção e criminalidade no Brasil, sem se repetir?! 

Talvez excluindo quase toda crítica social e explorando ao máximo todos os recursos tecnológicos disponíveis em equipamentos de alta resolução e da computação gráfica de (muita) qualidade na pós-produção.

 

Há muito tempo o Brasil tenta competir no mercado cinematográfico, buscando uma identidade própria ou na maioria das vezes, reproduzindo os clichês dos filmes hollywoodianos, mas sem os mesmos recursos e qualidade técnica, como podemos observar no fraquíssimo "Segurança Nacional" de Roberto Carminati (2010), as tentativas acabam falhando e desperdiçando 'nosso' dinheiro em produções de baixa qualidade e pobreza cultural.

Se "Tropa de Elite 1 e 2" de José Padilha e "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles conseguiram (com sucesso) unir ação, crítica social e autenticidade, ao tratar da violência urbana, presente no cinema nacional desde o início, com "Os estranguladores" de Francisco Marzullo (1908),  "Dois Coelhos" foge da crítica social, mas abusa dos efeitos especiais e da estética vídeogame para contar uma história de forma dinâmica. Qualidade estética não falta e acaba dando conta de uma narrativa confusa e superficial.


A trama não-linear é protagonizada pelo perturbado Edgar (Fernando Alves Pinto), que narra
sua vontade de combater a corrupção (presente na maioria do poder público e sistema de justiça) e a crimilidade (e suas vítimas diárias) que o rodeia em único 'plano de ação', numa espécie de 'justiça com as próprias mãos'.

Aos poucos (através de narração e grafismos super dinâmicos) vamos descobrindo a relação entre os personagens (político corrupto, advogado criminal, bando, etc), e a ligação de Edgar com a promotora Julia (Alessandra Negrini), envolvida com criminosos, extremamente ambiciosa e vítima da síndrome do pânico.


Essa síndrome do pânico recebe uma atenção especial no filme (a produção e pós-produção levaram 5 meses), ao ser descrita visualmente de forma simbólica e surrealista, onde a personagem luta contra 'bichinhos' meigos e assustadores, como o próprio medo humano.

Além disto, para que as cenas de ação criem expectativa, a super câmera lenta, no estilo 'bullet time' (Matrix) foi incorporada em diversas cenas de tiroteio e acidentes automobilísticos. Retardar a imagem em cenas de ação para criar expectativa, sempre representou sucesso garantido, desde a seqüência da "escadaria de Odessa" no filme "O encouraçado Potemkin" de Serguei Eisenstein (1925).

Se algo da história não fica claro momentaneamente, o diretor e autor Afonso Poyart, experiente em vídeos publicitários, reforça explicações para que nenhum espectador fique confuso, o que empobrece sua proposta fílmica.

Não posso negar que o filme é atrativo e dinâmico, e nem afirmar que é totalmente previsível, mas todo filme que se 'explica', acaba também se enfraquecendo. Porém isso não é motivo suficiente para desmerecer um filme que merece ser comemorado, já que abre as portas para um "novo" cinema nacional e as possibilidades da pós-produção em computação gráfica, efeitos especiais bem feitos, com absoluta qualidade!

Poyart mostrou que é possível fazer um filme de ação bem feito, com extrema qualidade, criativo, autêntico, sem abusar tanto dos clichês narrativos, usando idas e vindas narrativas (receita de sucesso da série LOST), contar com um elenco de peso com ótimas atuações (realistas, orgânicas e improvisadas) e explorar novas tecnologias em sua própria estética visual. A presença do vídeogame, dos grafismos e da história em quadrinhos são o grande diferencial desta proposta fílmica.

Para o que se propõe, sendo o primeiro longa do diretor, acho o filme excepcional e competente, ainda que se renda aos padrões mercadológicos e sirva como cartão postal para o cinema hollywoodiano (seus direitos foram comprados por algum estúdio no início do mês), mas sua qualidade e inovação estética são inegáveis e portanto ele se torna essencial em qualquer repertório de espectador interessado e sedento por "novidades"!! =)

2 comentários:

Leandro Coêlho disse...

Era pra eu ter assistido a este filme quando esteve em cartas na cidade, mas acabou que não deu certo e a oportunidade se foi.
Agora meu primo me emprestou para ver. Vamos ver quando vou conseguir isto.

Pedrita disse...

eu quero muito ver esse filme e lixo estraordinário. sou como o leandro, era pra eu ter assistido nos cinemas, mas não consegui. beijos, pedrita