Finalmente assisti a performance de Natalie Portman como a bailarina transtornada Nina.
Finalmente pude tirar minhas próprias conclusões sobre um filme elogiado, criticado, injustiçado ou mal compreendido!
Finalmente pude me libertar das cobranças alheias de desconhecer um trabalho considerado brilhante, mas longe de ser transgressor ou underground.
E finalmente cheguei à conclusão de que não adianta apenas assistir um filme, é preciso falar sobre ele, para captar todas as impressões que ele deixou.
Dito isto, posso resumir que é um filme interessante, menos brilhante do que eu esperava, mas talvez eu ainda esteja digerindo a ousadia de Darren Aronovsky, ao maquiar a Narrativa Clássica Hollywoodiana com suspense e tensão psicológica.
Foram muitos os elogios, de diferentes pontos de vista: leigos, cinéfilos, críticos profissionais, colegas, amigos e etc. A visão mais curiosa foi de uma crítica destruidora da Revista Bravo deste mês, que não considero injusta, mas grosseira.
Concordo que maquiar a Narrativa Clássica não é nada transgressor, mas menosprezar o esforço e criatividade de Darren é uma imensa grosseria. É típico de radicais, extremistas, com opiniões que beiram à "verdade absoluta", quando no cinema e na vida em si, elas não existem!
Desde o início do filme, somos distraídos com a tensão psicológica de Nina, ao enfrentar seus medos e anseios. Uma jovem reprimida, imatura, ingênua e perfeccionista ao extremo. Uma personagem desequilibrada, pois a imperfeição faz parte da natureza humana. O conflito é necessário para o equílibrio e a realização do grande sonho da vida limitada da bailarina Nina exige desequilibrar-se, "deixar-se levar" pela natureza desconhecida do inconsciente, dos instintos, da curiosidade e prazeres humanos.
A "receita de bolo do filme" é tão batida, que me fez lembrar do filme "Showgirls" que David Gilmour no livro "Clube do filme" rotulou de "prazer culpado". A história é simples: uma jovem mulher, decidida a fugir de seu tumultuado passado, vai para Las Vegas com o objetivo de tornar-se dançarina. Com o tempo, ela passa a ser corista no show de um grande cassino, mas surge uma rivalidade indisfarçável entre ela e a estrela do show. Até que, quando ela começa a se envolver com o responsável pelos espetáculos, fica claro que o cassino é pequeno demais para ela e sua rival.
A diferença é que Darren distanciou-se do showbusiness e das possíveis falhas narrativas, para focar nos conflitos psicológicos da personagem em enfrentar a competitividade, natural dos grandes palcos, as cobranças, a capacidade de se transformar e lidar com um diretor ousado e sedutor, além de uma mãe controladora e frustrada. Ele escolheu aproximar-se da realidade, seguindo a personagem com uma câmera, valorizando as elipses e produzindo imagens mais instáveis, exploradas na estética videoclipe e em filmes que buscam um caráter mais "realista".
E como Christopher Nolan faz muito bem em seus filmes, Darren transformou o abstrato em imagens. Transformou os sentimentos humanos em ações e as angústias e transtornos em transformações físicas.
E como muitos outros, nos "fala" em silêncio: isto é um filme e não a realidade! Ao mesmo tempo que nos distrai e nos faz sair da sala de cinema, sem certeza alguma dos limites entre realidade e fantasia. O que aconteceu ou não de fato?!
E importa?
Talvez por isso, seja difícil não sair transtornado do cinema, pois a maioria das pessoas procuram o cinema para se entreter, se distrair dos conflitos pessoais, procurando uma lógica que neste filme não existe. É tão confuso que alguns preferem se convencer e se confortar com limites, alegando que a personagem sofria esquizofrenia ou distúrbios de personalidade, quando nem na vida real isso é completamente compreendido e comprovado.
Quantas Ninas existem dentro de nós? Frágeis e assustadas?
E quantas Lilys? Impulsivas e selvagens?
Quantas mães (ou pais) controladoras e frustradas com seus próprios sonhos?
E quantos sonhos não exigem certas escolhas e conflitos??
Lidar com o desconhecido nunca é tarefa fácil pra ninguém, e Nina foi criada num casulo tão protegido que até para se libertar através do sexo, ela tem dificuldade.
Mas uma vida de bailarina não exige justamente extrema disciplina e perfeição? Foi o que Nina fez, e por ser "perfeita" como Cisne Branco, ela é defeituosa como "Cisne Negro". Como ser as duas coisas em uma? Como ser tão humana? É isso que Nina precisa aprender a ser...apenas humana!
3 comentários:
Um filme reflexivo, para entreter, aficcionar e deslumbrar. Cheio de entrelinhas que nos defrontam com o dia-a-dia, em analogias diferentes. Certo?
Parabéns =)
Eu te amo!!!
Assisti ao filme tomando uma heineken e com um certo desconforto. Fiquei tenso o filme inteiro...
Assisti Enter the Void
e aí?! deve ter sido algo bem....ousado?! hauhauahua
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