segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"O caçador de pipas" de Khaled Hosseini


O livro é narrado em primeira pessoa pelo personagem Amir jan, tendo apenas um ponto de vista. (com exceção de um capítulo, onde outro personagem, Rahim Khan narra para Amir uma passagem da história). Ele concentra-se na relação de amizade entre Amir e Hassan, que forma a estrutura principal da narrativa, paralela aos medos, inseguranças e lembranças do personagem principal. Apesar de tratar de dramas e conflitos da vida humana, tudo se passa num ambiente desconhecido do nosso mundo ocidental, pois trata de uma cultura, religião e etnias diferentes da nossa: islamismo e cultura arábe. Este universo só ficou mais familiarizado para as novas gerações, quando as torres gêmeras foram derrubadas e os EUA iniciaram uma nova guerra.


O que tinha tudo para se tornar um ótimo livro, falha a partir da metade. Até a metade, a obra é espetacular, fazendo o leitor se debulhar em lágrimas. Porém, acredito que o autor não soube conduzir a história até o final, empobrecendo a narrativa e deixando os personagens posteriores, superficiais, como Sohrab, o filho de Hassan, importante para o final da história.


Não é pelo fato de não ter um final propriamente dito "feliz", mas por criar uma expectativa para isso. O livro nos conduz para um final cheio de expectativas, mas introduz personagens que não ficam bem desenvolvidos, enfraquecendo a intenção de suas ações e atitudes. Talvez para criar um ar de surpresa, o que não é fácil, o autor acabou falhando e conduzindo uma narrativa artificial e forçada, pois enquanto criava expectativas para uma reviravolta na história, ele inseria cada vez mais dramas e horrores, transformando a história do meio para o final, uma tentativa forçada de nos comover e chocar.


O que faltou talvez, foi desenvolver melhor alguns personagens para compreendermos melhor suas atitudes. Ou modificá-las de acordo com o que parecem ser suas características psicológicas. Digo isso, porque no início, o autor se concentra em explicar com detalhes (através do personagem Amir) os momentos mais dramáticos que marcaram o personagem na infância, porém em outras passagens, mais dramáticas e chocantes, elas são descritas superficialmente, enfraquecendo sua carga dramática. Como se o perfil psicológico do personagem tivesse se modificado. Isso provavelmente ocorre, por termos apenas um ponto de vista da história.


Enfim, não é fácil contar uma história que não se viveu e passar credibilidade e verossimilhança, e foi nesse ponto que acredito que o autor falhou. A história pode não ter existido, o que é comum no universo da literatura, mas tinha que no mínimo ter perecido verdadeira.


Do meio para o final, o livro se tornou uma fábula fraca e cheia de absurdos narrativos.



PS.: O livro originou um filme e espero que o diretor consiga corrigir as falhas, e transforme esta história em um bom filme de drama.

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